“O Brasil é o Café, e o Café é o Negro”

 

Quais Foram as Principais Mudanças Econômicas Provocadas Pelo Café, Pouco Antes do Período da Proclamação da República? Por Que a Importação de Colonos Europeus Não Deu Certo? Quais as Consequências Das Denúncias de Maus-Tratos nas Fazendas de Café?

 

Fazendas de Café

 

Pouco antes do período da Proclamação da República, o café produziu uma drástica alteração no eixo econômico do país e, nos 200 primeiros anos de colonização, a riqueza brasileira se concentrava na Região Nordeste – o chamado “ciclo do açúcar”.

Depois, a riqueza migrou para Minas Gerais, na corrida do ouro e diamante e, por essa época, Francisco de Melo Palheta (sargento do Pará) contrabandeou de Caiena as primeiras sementes de café – planta originária da Etiópia e cultivada em segredo na Guiana Francesa.

Após aclimatadas em Belém, as mudas logo chegaram ao Vale do Paraíba (entre o Rio de Janeiro e São Paulo) e começava ali a febre do “Ouro Verde”. O produto, que na época da Independência representava apenas 18% das exportações, em 1889 já alcançava 68%; ou seja, quase 2/3 do total. O número de sacas saltou de 129 mil em 1820 para 5,5 milhões em 1889.

Duas mudanças demográficas marcaram o ciclo do café. A 1ª foi a transferência de escravos do Nordeste para o Sul e Sudeste e, essa migração forçada, começou por volta de 1850 após a aprovação da Lei Eusébio de Queiróz – que proibia o tráfico de escravos da África para o Brasil.

Como a lavoura canavieira estava em crise no Nordeste, os senhores de engenho passaram a vender para os fazendeiros de café se SP e RJ a mão de obra cativa que consideravam ociosa. Dessa forma, criou-se um intenso tráfico negreiro que continuou até a aprovação da Lei Áurea.

Escravos no Café

O 2º fenômeno foi a chegada de milhares de imigrantes europeus. A importação de colonos era um projeto antigo da época da corte de D. João, mas tinha sido adiada devido à abundância de mão de obra escrava. Porém, com a proibição do tráfico em 1850, tudo mudou e o preço dos escravos disparou.

Mesmo com o tráfico interprovincial, a escassez da mão de obra cativa era cada vez maior. Trazer imigrantes brancos para as lavouras como assalariados ganhou senso de urgência e, entre 1886 e 1900, São Paulo recebeu 1 milhão de imigrantes europeus – quase o dobro de toda a população escrava existente no país no ano da Abolição.

A imigração estrangeira chegou tarde ao Brasil e em número menor que o desejado porque o país nunca conseguiu criar o ambiente para atrair colonos livres. Em 1865, o Brasil tinha 80% de suas áreas cultiváveis nas mãos dos grandes proprietários. Ser dono de terras e escravos era sinônimo de prestígio social e poder político, mas, em grande parte, eram fazendas improdutivas.

Abolicionistas como Joaquim Nabuco e André Rebouças defendiam a criação de um imposto territorial, como forma de acabar com o latifúndio improdutivo e democratizar a propriedade da terra. Eles acreditavam que essa medida elevaria o país a um novo patamar de desenvolvimento.

O governo imperial resistiu a todas as tentativas de mudar esse quadro e, enquanto durou a Monarquia, o imposto territorial nunca conseguiu ser aprovado no Congresso. Ao contrário dos EUA que, por meio do “Homestead Act” (lei de 1862), autorizou a doação de terras a todos os que nela desejassem se instalar, no Brasil a Lei das Terras de 1850 ergueu barreiras à aquisição delas por parte dos imigrantes que chagavam da Europa.

As terras públicas eram vendidas à vista e a preços altos, a fim de evitar o acesso à propriedade por parte dos futuros colonos. Além disso, estrangeiros que tivessem passagens financiadas estavam proibidos de comprar terras até 3 anos após sua chegada.

Era uma forma de obriga-los a trabalhar nas fazendas no lugar dos escravos antes de conseguir juntar a poupança para comprar uma propriedade. Na época da aprovação do “Homestead Act”, os Estados Unidos já haviam atraído mais de 5 milhões de imigrantes, especialmente da Europa e, no Brasil, o número não passava de 50 mil.

Escravos no Café 1

Além de tardio, o projeto de imigração foi executado de forma improvisada e uma das primeiras tentativas aconteceu por iniciativa do senador Nicolau de Campos Vergueiro. Ele obteve da coroa portuguesa doações de terras em Piracicaba, Limeira e Rio Claro (SP).

Em 1846 iniciou o assentamento de imigrantes europeus numa de suas fazendas pelo sistema de parceria. As primeiras 364 famílias vinham da Bavária e da Prússia e os colonos assinavam um contrato pelo qual o fazendeiro se comprometia a lhes pagar as passagens de navio, transporte e alimentação até o local de trabalho.

Em troca, os colonos assumiam o compromisso de cultivar as lavouras até ressarcir o proprietário desses valores, pagando 6% de juros ao ano. Receberiam uma parte da produção de café, mas eram obrigados a vende-la ao proprietário pelo preço que lhe conviesse e do qual seriam abatidos os custos de transporte e beneficiamento dos grãos, entre outros.

Os imigrantes logo perceberam que as exigências contratuais os colocavam na situação de “escravos brancos” e, como resultado disso, em fevereiro de 1857 uma revolta estourou numa das fazendas de Vergueiro. Os colonos alegavam que o fazendeiro lhes comprava o café por preços inferiores aos do mercado, mas ao mesmo tempo lhes vendia mercadorias a preços extorsivos. Muitos deles se encontravam mais endividados do que na época da chegada ao Brasil. O tratamento era semelhante ao vigente nas antigas senzalas.

Os imigrantes que voltavam para a Europa escreveram livros denunciando a fraude da imigração para o Brasil. Thomaz Davatz em seu livro “Memórias de um colono no Brasil” reclamou que que os colonos estrangeiros não passavam de pobres coitados, miseravelmente espoliados e perfeitos escravos. Para ele, a culpa por tal situação cabia aos fazendeiros e ao governo, que permitia a propaganda enganosa feita na Europa.

As denúncias de maus-tratos levaram alguns países a proibir a vinda de imigrantes para o Brasil e, em 1885, o governo italiano publicou uma circular na qual desaconselhava seus cidadãos a migrar para São Paulo. ([1]). Todas essas dificuldades resultavam de passivos sociais, econômico e políticos que o Brasil carregava desde a sua fundação.

Depois da Independência a construção do Brasil havia sido complicada e tortuosa, pois o Império era imenso, diversificado e difícil de administrar. De um lado, havia um grande território repleto de riquezas naturais e, de outro lado, escravidão, analfabetismo, isolamento e rivalidades políticas e regionais.

 

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([1]) BORIS, Fausto. “História concisa do Brasil” p. 114

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