O Estresse e a Qualidade de Vida no Trabalho

O Que Significa Sentir-se Estressado? Como se Classifica o Estresse? Como Administrar o Estresse no Trabalho? Quais São os Modelos de Estresse?

Considerada a doença da modernidade, todos nós sabemos de alguma forma o que significa sentir-se estressados. Em algumas pessoas ele pode se manifestar sob a forma de problemas no sistema digestivo e, em outras, no sistema cardiovascular. Na verdade, cada pessoa pode manifestar seu estado de estresse de uma forma particular.

Para definir o estresse é importante considerar várias questões e, em primeiro lugar, pode-se dizer que o estresse quanto ao seu nível, é uma reação muito individual, pois cada pessoa percebe uma situação a seu modo. O que para uma pode ter um alto nível de estresse, para outra é totalmente indiferente.

Isso depende das experiências de vida, capacidades e limitações e alguns aspectos psicológicos e emocionais. Um bom exemplo é apresentar-se em público, seja para uma palestra ou em uma reunião. Para algumas pessoas essa é uma situação altamente estressante, já outras realizam com calma e naturalidade sem maiores consequências.

A segunda questão a ser considerada para definir o estresse é a fonte, o fator estressor, que pode ter caráter real ou imaginário. Não há a necessidade de estar realmente em situação de perigo para sentir estresse, alguns indivíduos apenas precisam imaginar uma situação estressante.

Estresse Agudo e Estresse Crônico

O estresse pode ser classificado em agudo ou crônico, conforme o período de reação e ameaça. O agudo é caracterizado por reação de curto prazo a uma ameaça imediata, como acontece, por exemplo, quando somos repreendidos por um líder sobre um erro que precisa ser corrigido às pressas.

Já o estresse crônico acontece quando a situação estressante tem uma constância e provoca reações de longa duração. Como, por exemplo, quando somos submetidos ao medo da demissão por longos períodos por conta de um declínio da empresa que acontece ao longo do tempo. A qualquer momento imaginamos que possa ser a nossa vez de ir embora e trabalhamos em estado de alerta a qualquer movimentação no ambiente.

As reações provocadas pelo estresse crônico são mais intensas em relação ao estresse agudo e é sempre uma condição agressiva ao corpo. Em situação de estresse, o corpo tem o que chamamos de resposta ao estresse. Essa resposta é inconsciente e o corpo se prepara para lidar com o “perigo”.

Nosso cérebro não sabe a diferença entre um perigo “real” – uma arma apontada para nossa cabeça ameaçando nossa vida, por exemplo – e um perigo “irreal”, ser demitido não ameaça nossa vida diretamente, mas ainda assim é encarada como se fosse pelo nosso organismo.

  • Estresse Agudo: Estado permanente de alerta e excitação / Aumento da energia / Sentimento de inquietação e de preocupação / Sentimento de tristeza / Perda de apetite / Supressão de curto prazo do sistema imunológico / Aceleração do metabolismo e queima de gordura; corporal.
  • Estresse Crônico: Ansiedade e ataques de pânico / Depressão / Transtornos de alimentação de longo prazo (Anorexia ou excessos alimentares) / Irritabilidade / Baixa resistência física a infecções e enfermidades / Diabetes / Pressão arterial alta / Perda de interesse pelo sexo.

Modelos de Estresse

Podemos entender que quando há estresse no ambiente de trabalho, algo está em desequilíbrio, forçando demais uma situação ou questão que pode ser interna ou externa em cada indivíduo. Vamos entender como essas condições podem se manifestar em dois modelos de estresse – o modelo demanda-controle e o modelo desequilíbrio entre esforço e recompensa. No livro Comportamento Organizacional: teoria e prática, os autores Hitt, Miller e Colella descrevem os modelos:

  • MODELO DEMANDA-CONTROLE: Modelo que sugere que o estresse vivenciado é função tanto das demandas inerentes ao trabalho quanto do controle sobre o trabalho. O estresse é mais elevado quando o nível de demanda é alto, e os funcionários tem pouco controle sobre a situação. […]
  • MODELO DESEQUILÍBRIO ENTRE ESFORÇO E RECOMPENSA: Modelo que sugere que o estresse vivenciado é função tanto do esforço exigido quanto das recompensas obtidas. O estresse é mais elevado quando o esforço exigido é alto, mas as recompensas são baixas. (HITT; MILLER; COLELLA, 2013, p. 205).

No modelo demanda-controle, trata-se de ter ou não autonomia sobre as tarefas e resoluções da rotina de trabalho. Quanto mais autonomia (controle) eu tenho, menos estresse e vice-versa. Por exemplo: Você recebe a demanda de resolver um problema de logística da empresa, mas nunca pode escolher a melhor opção entre os prestadores de serviço. Ou seja, você tem uma responsabilidade, mas não tem os recursos necessários para realizar a tarefa e o tempo todo estará em alerta com medo de não conseguir cumprir com suas demandas.

Já no modelo de desequilíbrio entre esforço e recompensa temos uma outra situação onde o foco é mais específico na realização de uma tarefa. Ocorre quando o esforço empenhado para realizar algo não é recompensado à altura. Talvez essa situação seja mais clara e rotineira para você. Exemplo é quando realizamos mais que o esperado e não recebemos ao menos um “bom trabalho” ou em situações mais complicadas como em empresas que solicitam horas extras o tempo todo e de alguma forma não realizam pagamentos proporcionais, manipulando os colaboradores a realizarem essa tarefa para “o bem da organização” e para poderem manter seus empregos. Neste caso, a questão chega a ser uma infração.

Somos movidos por estímulos, temos nossas necessidades humanas que precisam ser atendidas, e quando isso não acontece, ficamos frustrados e isso é um grande fator de estresse.

Administrando o Estresse no Trabalho

Como seres que possuem livre-arbítrio podemos sempre escolher, entre as melhores opções disponíveis, se vamos ou não continuar em um trabalho ou empresa que nos causam estresse, mas em algumas situações a melhor escolha é manter o emprego enquanto é possível.

Mas essa condição não é saudável nem para nós nem para as empresas em que estamos trabalhando. As organizações devem se preocupar com os fatores de estresse e qualidade de vida dos colaboradores, pois são quesitos importantes para atrair e principalmente manter talentos.

Já entendemos que somos a representação de nossas emoções segundo nossas experiências de vida e modo de ver o mundo, tomamos conhecimento de nossas necessidades como seres humanos que precisam ser atendidas se quisermos viver bem, entendemos que quando as coisas estão em desequilíbrio somos acometidos por estresse e isso pode trazer problemas para nós e para as empresas em que estamos inseridos.

Esses conceitos são parte de algo maior, a qualidade de vida no trabalho (QVT), a qual vai muito além de bons salários e benefícios, estando totalmente relacionada com a satisfação que nós temos em realizar um trabalho e fazer parte de uma organização. Isso é possível quando as empresas deixam de tratar seus funcionários como números e passam a enxergá-los como seres humanos integrais, ou seja, com uma vida composta de pelos menos estes aspectos: pessoal, profissional, relacionamentos e qualidade de vida.

Podemos dizer que qualidade de vida no trabalho é o conjunto de ações e procedimentos implantados pelas empresas com a finalidade de equilibrar a relação vida-trabalho entendendo e levando em consideração os três níveis do ser humano: biológico, psicológico e social. Ferreira (2013, p. 113) esclarece:

No nível biológico, estão as características inatas ou adquiridas ao longo do tempo. Inclui metabolismo, vulnerabilidades e resistências físicas. Já́ o nível psicológico relaciona-se aos processos emocionais, afetivos e de pensamento, conscientes ou inconscientes, que moldam a personalidade e o modo de perceber e se relacionar com as pessoas e com o mundo. O nível social envolve os valores, as crenças e a forma de participação do indivíduo em todos os grupos de que faz parte.

Quando organizações reconhecem todos os aspectos das vidas dos indivíduos, começam a entender seu papel na missão de ajudar seus colaboradores a ter equilíbrio entre esses aspectos. Organizações que se preocupam com a qualidade de vida no trabalho e que realizam ações e investimentos nesse sentido, só têm a ganhar. Vejamos alguns benefícios do ponto de vista das empresas:

  • REDUÇÃO DE TURN OVER: Quando as pessoas gostam de trabalhar em um lugar elas fazem de tudo para manter seu emprego. Uma empresa que preza pela qualidade de vida dos colaboradores, recebe seu reconhecimento e uma espécie de gratidão. Ter a gratidão dos colaboradores é um ótimo elemento de comprometimento.
  • COLABORADORES MAIS SAUDÁVEIS: Quando os níveis de estresse são controlados, quando existe preocupação e investimento para o bem-estar e para atender às necessidades dos colaboradores, as pessoas ficam menos doentes. Colaboradores mais saudáveis faltam menos, ficam menos de licença e produzem mais.
  • MELHORIA DOS RESULTADOS: Ações que promovem a qualidade de vida no trabalho influenciam diretamente nos resultados da empresa. Colaboradores satisfeitos, saudáveis, gratos, são mais engajados e comprometidos e por consequência, mais eficientes e produtivos. É um investimento que deve ser levado em consideração se a empresa quer não só se manter ativa como crescer.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, P. I. Clima organizacional e qualidade de vida do trabalho. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

HITT, M. A.; MILLER, C. C.; COLELLA, A. Comportamento Organizacional. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

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