As Democracias Populares da Europa Centro Oriental Pós-Guerra

Por Que os Estados Socialistas Eram Chamados de Democracias Populares, Após a 2ª Guerra? Que Tipo de Política se Desenvolveu nas Democracias Populares? O Que Representou o Movimento “Solidariedade” na Polônia?

 

 

 

Holanda Idade Mpderna (1)A Europa Central e Oriental constituem – ao lado do Extremo Oriente – a parte do mundo que mais sofreu com a Segunda Guerra. A Albânia, a Bulgária, a Tchecoslováquia, a Hungria, Polônia, Romênia, a Iugoslávia (entre 1944 e 48) e, posteriormente, a Alemanha Oriental, converteram-se em Estados Socialistas (as Democracias Populares) e foram colocados na esfera de influência da URSS.

O avanço do Socialismo se explicou pela ativa participação dos comunistas nos movimentos de resistência contra o Eixo e, durante a guerra, constituíram-se governos revolucionários porque os antigos dirigentes se refugiaram no exterior, ou aderiram ao Eixo como colaboracionistas.

A presença do Exército Soviético ajudou os comunistas a formar governos de coligação, progressivamente se fortalecendo graças ao descontentamento popular contra as tradicionais classes dominantes.

Nas Democracias Populares desenvolveu-se uma política visando à organização de sociedades socialistas, as quais eram inspiradas no modelo soviético, com a supressão da propriedade privada dos meios de produção, a planificação econômica e as reformas agrárias.

Essa política estabelecia coletivização da agricultura, a nacionalização dos bancos, fábricas, empresas de mineração, transportes, comunicações, etc.; elevação do bem-estar material e dos padrões culturais; prioridade à produção de bens de equipamentos, sem descuidar da produção de bens de consumo.

A criação da Coordenação das Políticas e Planos Econômicos (COMECON) em 1949 e o estabelecimento do Pacto de Varsóvia (1955) trouxeram maior coesão ao Bloco Socialista europeu, estreitamente vinculado à URSS.

A Albânia (onde se continuou a celebrar o culto á Stalin) afastou-se da URSS e se ligou à China, quando se deu a ruptura sino-soviética (1962). A Iugoslávia constituiu um caso especial, pois seu rompimento com a URSS, a adoção de uma política externa independente e o “caminho próprio para o Socialismo” representaram características originais do socialismo iugoslavo. Sob a direção de Tito criou-se um Estado federal, a autogestão operária e a descentralização econômica, embora ainda se mantivesse um sistema coletivista.

Cada vez mais acentuada entre os países socialistas europeus, a falta de coesão se aprofundou com uma onda de greves ocorrida na Polônia em 1980. Embora dirigentes poloneses acusassem a Igreja Católica, o imperialismo (e grupos reacionários polacos), as reivindicações operárias expressavam a crise socialista no Leste Europeu.

Sindicato SolidariedadeIniciado em Varsóvia, o movimento grevista adquiriu maior expressividade sob a liderança de Lech Walesa – nos Estaleiros Lênin – os trabalhadores exigiam o direito a criar sindicatos independentes do Partido Comunista.

E, recebendo o apoio da Igreja Católica, de vários países capitalistas e de Partidos Comunistas europeus defensores da independência de Moscou, o movimento sindical autônomo (“Solidariedade”) foi reconhecido pelo governo polonês em 1980.

As novas diretrizes de Gorbachev – pondo fim ao modelo estalinista – trouxeram maior autonomia para os países da Europa Socialista que reagiram de formas diferentes ao pronunciamento de que “as sociedades têm o direito de seguir seu próprio caminho em busca da Democracia Socialista”.

A retirada de soldados soviéticos em Estados Socialistas e a redução de armamentos foram claras manifestações de que a URSS não mais recorreria a intervenções militares para garantir sua influência sobre seus aliados da Europa Centro-Oriental, como ocorrera na Hungria (1956) e na Tchecoslováquia (1968).

Um a um foram caindo os regimes estalinistas do Leste Europeu, eleições livre começaram a ocorrer, reformas econômicas foram realizadas atendendo a pressão popular – manifestada através de passeatas por melhores condições de vida e garantia às liberdades individuais.

Na Polônia, o sindicato “Solidariedade” voltou à legalidade, conquistando as eleições parlamentares de 1989, obtendo o direito de escolher o primeiro-ministro e, pela primeira vez, um país socialista foi governado por dirigentes pertencentes a um partido não comunista e dispostos a desenvolver uma economia de mercado.

Entretanto, a difícil transição ao Capitalismo favoreceu a oposição representada pela Aliança Democrática de Esquerda (sucessora do extinto Partido Comunista) e, apesar do apoio da Igreja Católica, o governo Walesa foi incapaz de conter o descontentamento popular.

A Polônia encontrava-se atrasada economicamente em relação aos países da União Europeia e muitos profissionais qualificados abandonavam o país, enquanto crescia o número de trabalhadores informais.

E, em 1994, as últimas tropas russas abandonaram a Polônia. O fechamento do estaleiro de Gdansk, – nascedouro do movimento Solidariedade – no final dos anos 70 assinalou o fim de uma época e o começo de uma nova era na Polônia.

Lech WalesaNa Hungria, a censura foi abolida, o pluripartidarismo passou a vigorar, o Partido Comunista se dissolveu, transformado no Partido Socialista Húngaro. Aprovou-se uma nova Constituição, combinando valores das democracias burguesas e do Socialismo Democrático. Em 1994 o Partido Socialista (formado por antigos comunistas) obteve espetacular vitória eleitoral e o Primeiro Ministro prosseguiu a política de privatizações, defendendo à adesão do país à União Europeia.

Na política externa a Hungria buscou integração com Ocidente, defendendo a participação dos países da Europa Centro-Oriental na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e na União Europeia (EU). Ela procurou resolver a questão das minorias húngaras nos países vizinhos (Romênia, Iugoslávia e Eslováquia), embora não tenha obtido grande sucesso.

O furacão reformista também atingiu a Alemanha Oriental, onde a antiga direção do Partido Comunista foi substituída em meio ao descontentamento popular e protestos de rua, exigindo a liberalização do regime. O presidente recém-eleito prometeu eleições gerais com a livre participação dos partidos de oposição, abriu as fronteiras alemãs, incluindo os pontos de passagem do Muro de Berlim.

Mas, a rapidez das mudanças ultrapassou todas as previsões e, antes de findar o ano de 1989, o Muro de Berlim foi derrubado e no ano seguinte as duas Alemanhas se uniram em um único Estado.

As dificuldades da Alemanha unificada abrangeram os campos econômico, social e institucional como desemprego (devido ao desmantelamento do parque industrial da ex-Alemanha Oriental), imigração de trabalhadores de outras nacionalidades, perda de competitividade da indústria no cenário mundial e adiamentos da utilização da moeda única da União Europeia (prevista para 1999).

O chanceler alemão permaneceu no poder e devido ao baixo crescimento da economia e ao alto nível de desemprego, o governo lançou um programa de austeridade, cortando custos na previdência social e incentivando as microempresas.

No campo da política externa as relações com a Rússia foram abaladas pela desaprovação das ações contra a Chechênia, embora o governo evitasse críticas mais duras à política russa. Os 50 anos do fim da 2ª Guerra trouxeram para a Alemanha uma reflexão sobre sua responsabilidade como povo e identidade como país democrático.

Na Bulgária, há 35 anos no poder, o presidente renunciou e novas lideranças comunistas anunciaram reformas democratizando o país. Na Tchecoslováquia o ritmo das mudanças também foi acelerado e, as manifestações dos estudantes, mobilizaram milhares de pessoas na eleição de Vaclav Havel à presidência.

Ele conseguiu aprovar a criação de duas Repúblicas – a Tcheca e a Eslovaca – com governos que possuíam seus próprios ministérios e estruturas autônomas. Ao mesmo tempo, o país encaminhou-se para uma economia de mercado e para as privatizações de estatais obsoletas. E, apesar dessas modificações, nas eleições municipais de 1990, os candidatos do Partido Comunista obtiveram boa votação.

América Colonial Inglesa (2)Mas, os problemas surgidos com o fim do Socialismo e a economia de mercado fizeram renascer as rivalidades entre a República Tcheca (industrializada) e a República Eslovaca (mais pobre e agrária) e, em consequência disso, em 1993 as duas repúblicas se tornaram dois Estados Independentes.

Na República Tcheca o governo continuou com sua política de privatizações e, em 1996, ele pediu que o país fosse admitido na União Europeia e na OTAN. Na Eslováquia, os principais problemas após a dissolução da Tchecoslováquia foram as rivalidades entre o presidente e o primeiro-ministro, a oposição e a questão da minoria húngara que vive no país. O governo tornou o eslovaco a língua oficial e, no plano externo, estreitou relações com antigos países do Bloco Socialista como a Ucrânia e a Rússia.

Os ventos reformistas também chegaram à Romênia, onde a repressão às manifestações causou milhares de vítimas, mas não impediu a prisão, julgamento e fuzilamento de Nicolas Ceausescu. Sindicatos não comunistas foram legalizados, o governo reconheceu o direito de livre expressão, estabeleceu a reestruturação da economia com base na eficiência e rentabilidade e o estímulo à iniciativa privada.

Em 1990, a Romênia lançou as bases para uma economia de mercado, privatizando milhares de estatais e recorrendo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1996 um tratado com a Hungria garantiu a inviolabilidade das fronteiras e os direitos da minoria húngara residente no país.

A Iugoslávia também foi atingida pelas mudanças, multiplicando-se os conflitos entre as diversas etnias, além da crescente contestação ao modelo federativo. Em 1990, as eleições favoreceram aos comunistas na Sérvia e no Montenegro e, ao ganhar as eleições na Eslovênia e na Croácia, a oposição acabou proclamando a independência dessas regiões. As novas repúblicas foram logo reconhecidas pela Alemanha, embora a Sérvia tenha enviado tropas contra a Eslovênia e armado milícias de sérvios que viviam na Croácia. Era o início da guerra civil.

Em 1992 a Macedônia e a Bósnia-Herzegovina também declararam sua independência, ficando a Iugoslávia reduzida ao Montenegro e à Sérvia. E, não aceitando a secessão, o governo tentou dominar a Bósnia recorrendo à prática de se utilizar de sérvios que viviam em terras bósnias.

A guerra civil se arrastou até o final de 1995 quando se assinou um acordo decidindo que a Bósnia seria uma federação croata-muçulmana, em uma região com sérvio-bósnios, onde o governo incluía sérvios, croatas e muçulmanos. Os milhares de refugiados poderiam retornar e seria criado um “corredor”, unindo territórios habitados por sérvios e bósnios.

Em 1998 explodiu novo conflito em Kosovo, cuja maioria da população era albanesa e muçulmana. O governo da Sérvia (cujas raízes se encontravam em Kosovo) não aceitou a separação, o nacionalismo separatista foi combatido mediante a prática da limpeza étnica, incêndio em aldeias e estupros.

Essa violência provocou a fuga em massa de cidadãos para os Estados vizinhos. Após 10 meses de guerra civil surgiu uma nova Iugoslávia e, das seis repúblicas que a compunham, somente a Sérvia e Montenegro fazem parte do novo país (1992).

Até a isolada Albânia apresentou sinais de mudanças em 1990, pois se permitiu a liberdade religiosa, a legalização do Partido Democrático pondo fim ao regime de partido único. Discutiram-se reformas constitucionais, introduzindo o voto secreto e permitindo investimentos de capitais estrangeiros na economia.

Embora enfrentando graves problemas econômicos, políticos e sociais o governo conseguiu se impor aos comunistas e continuar o programa de privatizações. No plano externo, a Albânia assinou com a Grécia (em 1996) um acordo de amizade, cooperação e segurança.

 

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