O Que Sugerem as Diferentes Análises dos Estudos de Grupo? O Que é Fundamental Para a Constituição de Um Grupo? Quais São os Três Componentes de Um Grupo? Em Termos de Dinâmica Como se Classificam os Grupos?
Ainda que a literatura em Psicologia reconheça o grupo como a soma de indivíduos, não se pode deixar de compreendê-lo como um fenômeno bastante peculiar. As diferentes análises presentes nos estudos de grupo sugerem que não se trata de analisar um grupo partindo-se das individualidades de seus componentes, mas de envolver-se com as particularidades que fazem com que esses indivíduos formem grupos. Nesse sentido, o que está entre os indivíduos, o que os mantém coesos, as relações de interdependência que caracterizam um grupo tornam-se mais representativos do que suas personalidades, ou o que está “dentro” do indivíduo.
Isso não quer dizer que os indivíduos e suas forças serão ignorados, ao contrário, a análise do papel que uma pessoa ocupa no grupo é uma dimensão importante, porque está em função do grupo de que participa. Nosso comportamento individual se modifica na presença dos diferentes grupos que compomos ao longo da vida. O papel e a função também se modificam; enfim, proporcionamos uma dinâmica diferente a cada grupo que participamos, pois, cada grupo apresenta suas regras, seus objetivos, seus envolvimentos, sua dinâmica própria. Por isso, a análise de um grupo deve partir do próprio grupo e não dos indivíduos que o compõem, ainda que as fronteiras entre o que é o indivíduo e o grupo não sejam muito claras, como já sugerimos.
Se pensarmos sobre os grupos aos quais nos encontramos vinculados hoje, de imediato, vêm-nos à mente ao menos dois: família e trabalho (ou escola). São dois grupos bastante distintos em relação a suas regras internas, funcionamento, papéis atribuídos, força dos vínculos. Mas o que os caracteriza como grupos? Um grupo não é uma soma de indivíduos reunidos num espaço físico, um aglomerado de pessoas que se encontra por um determinado tempo num lugar circunscrito. Por exemplo: pessoas em um ônibus não configura um grupo. Por mais que se dirijam a um mesmo destino e estão ali pelas mesmas razões, compartilhem mais ou menos as mesmas regras de convivência social, bem como as normas internas do uso do transporte público; falta-lhes interação e interdependência de seus componentes, algo que é fundamental para a constituição de um grupo. O espaço físico não pode ser simples determinante de uma relação grupal.
Desde o advento da internet, as redes sociais vêm-se consolidando como importante dispositivo de promoção de diversos grupos, por exemplo. O termo “grupo” designa dois ou mais indivíduos que compartilham um conjunto de normas, valores e crenças com relações definidas a tal ponto em que o comportamento de cada um traz efeito para os demais, de forma implícita ou explícita. Essas propriedades do grupo e a definição dos vínculos entre seus membros emergem da interação entre eles, algo que também traz efeitos para estes membros, que estão comprometidos com, pelo menos, um objetivo comum. Portanto, as características podem ser listadas da seguinte maneira ([1]):
- A necessidade de um objetivo comum.
- A capacidade de o objetivo satisfazer às necessidades dos membros do grupo.
- A interação dos membros do grupo como fator fundamental da definição de grupo.
- A impossibilidade de conceber sem interação e interdependência de seus membros.
A contribuição dos estudos de grupos para a psicologia do trabalho ancora-se muito nas pesquisas de Kurt Lewin ([2]), que dá grande ênfase à interdependência, a forças existentes entre os membros do grupo. Para caracterizar qualquer grupo como um grupo, o sentimento de pertencimento e unidade perpassa todos os seus membros. Pioneiro em pesquisas com pequenos grupos, ele buscava examinar as dinâmicas nestes grupos para analisar contextos sociais mais amplos dos grandes grupos sociais (étnicos, de gênero, religiosos, etc.). A delimitação exata do número de componentes de um pequeno grupo e de um grande grupo varia segundo diferentes autores. Entretanto, estudiosos no assunto são unânimes em afirmar que um pequeno grupo não deve ultrapassar 20 participantes, e que o número ideal para a sua constituição é de 8 a 12 elementos, o que favorecerá a uma maior coesão, interação e participação de seus membros. Objetivamente, podem ser identificados três (3) componentes nos grupos:
- Os insumos (pessoas, liderança, tarefa, ambiente) são a “matéria-prima” da atuação do grupo.
- A dinâmica de grupo é o conjunto de processos pelo qual o grupo produz efeitos, resultados.
- Resultados. A dinâmica se constitui em:
– Atividade (o que o grupo faz; a dimensão de conteúdo do grupo).
– Processo (como o grupo faz; a dimensão de formação do grupo).
Esses grupos adotam formas de equilíbrio que os estruturam como grupo no seio de um campo de forças, tensões e pelo sistema perceptivo dos indivíduos. Estas forças (ação, reação, interação, movimento, etc.) constituem o aspecto dinâmico do grupo e, por conseguinte, afetam a sua conduta. A dinâmica de grupo como disciplina moderna, pertencente ao campo da psicologia social, estuda e analisa a conduta do todo grupo e as variações da conduta individual por parte de seus membros, as reações entre os grupos ao formularem leis e princípios, e ao introduzirem técnicas que aumentem a eficácia dos grupos. Em termos de dinâmica de grupo, os grupos se classificam em:
- Grupo Primário – composto por um número reduzido de pessoas que se relacionam ligadas por laços emocionais com relações diretas, em que se mantém um processo de associação e cooperação íntima. Exemplo: grupo de amigos, grupo familiar, grupo de estudo e o próprio grupo de trabalho.
- Grupo Secundário – as relações nesse tipo de grupo se mantêm mais frias, impessoais e formais. Estas se estabelecem através de comunicações indiretas, como é o caso das empresas, instituições, etc. A mobilidade característica das relações grupais pode aproximar as classificações ou fazê-las mais distintas.
Salientando o que já foi dito, LEWIN (1951) defende que o comportamento do grupo difere do comportamento de seus membros, pois o grupo desenvolve processos e possui forças próprias que influenciam seus membros. Assim, a organização é uma entidade psicológica que desenvolve processos psicológicos próprios, uma cultura própria, com seus valores, seus objetivos e prioridades. Nesse sentido, há uma defesa de que fatores ambientais devem favorecer o desenvolvimento do potencial dos seres humanos, algo a ser colocado em prática nas organizações através dos grupos de trabalho.
Para analisarmos em que medida esses fatores favorecem o desenvolvimento do potencial dos seres humanos em uma organização, retoma-se o grupo como campo de forças. Por campo, entende-se que há uma planificação horizontal onde a interdependência deve se sobressair à verticalidade do autoritarismo, que gera dependência a uma figura central. Existirão forças que facilitarão esse desenvolvimento do grupo e outras forças que dificultarão o seu progresso, forças que são concorrentes e precisam ser colocadas em análise, caracterizando o que chamamos de clima do grupo. Os principais fatores a serem analisados são:
- Objetivos – há objetivo comum a todos os membros do grupo? Em que medida este objetivo está claro/compreendido/aceito por todos? Os objetivos individuais são compatíveis com os do grupo e entre si?
- Motivação – quanto há de real interesse/entusiasmo pelas atividades do grupo? Quanta energia individual passa a ser canalizada para o grupo? Quanto tempo se investe no grupo (frequência, permanência, atrasos, ausências, saídas antecipadas)? Qual é o nível de real envolvimento nos problemas e em que ponto há a participação plena e espontânea nos processos de grupo?
- Comunicação – através de que modalidades as pessoas se comunicam no grupo? Há bloqueios/receios de falar? Há espontaneidade ou cautela nas colocações? Qual é o nível de distorção na recepção das mensagens? Há trocas de feedback? Se sim, elas se dão abertamente ou em pares?
- Processo decisório – como são tomadas as decisões no grupo? Com que frequência elas são unilaterais? Há votações para decidir? Com que frequência se chega a um consenso, em que todos participem se posicionando, com respeito às opiniões? Qual é o método de tomada de decisão mais comum?
- Relacionamento – as relações entre seus membros são harmoniosas, propícias à cooperação? Esta harmonia permite a real integração de esforços e efetividade que fomentam a coesão do grupo ou são apenas formais, de cordialidade? As relações se mostram conflitantes e claramente indicam competição entre os membros? Até que ponto os conflitos se agravam? Nesse sentido, há risco de ser conduzido o grupo à desintegração?
- Liderança – como a liderança é exercida? Quem a exerce e sob que circunstâncias? Que estilos de liderança são mais comuns no grupo? Como se dão as relações entre líderes e liderados? Como o poder é distribuído?
- Inovação – as atividades do grupo são rotineiras? Como as ideias novas/ sugestões de mudança nos procedimentos são recebidas? Estimula-se e exercita-se a criatividade no grupo?
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Maria Aparecida F. Psicologia aplicada à administração: uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006.
FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1972.
([1]) AGUIAR, Maria Aparecida F. Psicologia aplicada à administração: uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006
([2]) LEWIN, K. “Teoria de Campo em Ciências Sociais”. Nova York: Harper.1951