Os Conceitos e Tipos de Inflação

 

Quais São as Principais Causas da Inflação? Como Ocorreu o Processo Inflacionário Brasileiro na Década de 80? O Que Foi o Plano Cruzado? Quais Foram as Bases do Plano Collor?

 

cruzado

 

Um doa mais antigos e controvertidos fenômenos econômicos é a depreciação do valor da moeda (a redução do seu poder aquisitivo), o qual é identificado como inflação. Suas teorias explicativas são numerosas, mas existem poucas conclusões definitivas quanto às suas causas e consequências. A multiplicidade das teorias sobre esse assunto resulta do fato de não haver uma única teoria capaz de explicar todas as inflações que têm ocorrido nos diversos países, através da história.

Os economistas têm formulado várias teorias, mas uma que pareça ser plausível para determinada situação pode ser inadequada para outra. As causas da inflação podem diferir de um país para outro – em função de seus diversos níveis de desenvolvimento –, do poder de negociação das suas organizações trabalhistas, do grau de concorrência em suas indústrias e da maior (ou menor) significação do comércio internacional.

Mas, apesar da multiplicidade das suas causas, há algumas características comuns aos diversos processos inflacionários, pois a própria concepção da inflação pode ser aplicada a todos os casos. De forma geral, a inflação é caracterizada pela contínua, persistente e generalizada expansão dos preços, sendo, portanto, um fenômeno de abrangência macroeconômica. A expansão dos preços decorrente da escassez das entressafras não é suficiente para caracterizar um processo inflacionário. Este, só será caracterizado quando todos os bens – e serviços – disponíveis acusar uma tendência altista generalizada e contínua.

A Inflação Brasileira

Plano Collor

 

No início dos anos 80, a inflação no Brasil situou-se na faixa de três dígitos, mantendo-se em torno de 100% ao ano. No triênio 1983-85, superou a taxa anual de 200% e, no início de 1986, caminhava para mais de 300%. Sob a sustentação da correção monetária, instalou-se o processo de inflação e, automaticamente, a inflação passada reproduzia-se no presente, animando um sistema de alta de preços. As expectativas dos agentes econômicos eram inflacionárias, comandando remarcações de preços nas atividades protegidas por oligopólios e/ou monopólios.

Em fevereiro o governo optou por um programa de estabilização heterodoxo e, contrariando a ortodoxia baseada na contenção dos meios de pagamento, o choque compreendeu medidas das quais as de maior impacto foram: (a) criação de uma nova moeda, o Cruzado (Cz$); (b) extinção do Cruzeiro, com paridade inicial de Cz$ 1,00 por Cr$ 1.000,00; (c) extinção da correção monetária; (d) congelamento total de tarifas e preços (públicos e privados); (e) fixação da taxa de câmbio do Cruzado em relação às divisas externas conversíveis.

Essas medidas reverteram temporariamente as expectativas inflacionárias, quando ela recuou para níveis próximos do zero e quebrou-se seu ímpeto inercial. Com os preços congelados e os ativos financeiros desindexados ocorreu intenso processo de monetização, ampliando-se as pressões sobre o setor real da economia. A demanda por bens e serviços de consumo e de produção, tornou-se exacerbada e, em mercados paralelos, os preços efetivos passaram a incorporar ágios.

No final de 86, os ágios sinalizavam a existência de inflação reprimida – que era alimentada pela expansão da oferta de moeda, pela elevação dos níveis de salários e empregos e pela redução da pressão fiscal sobre a renda corrente – voltou a se manifestar com vigor maior que antes do Plano Cruzado. Consequentemente, no início de 87, os preços romperam a barreira do congelamento e a inflação se acelerou a taxas inusitadas. No 2º semestre de 87 as taxas anuais situavam-se no patamar de 4 dígitos e, dessa forma, um segundo choque foi aplicado, mesclando-se a heterodoxia do congelamento com tentativas ortodoxas para conter o déficit público e a oferta primária de moeda.

O 2º choque na economia não produziu resultados duradouros, pois sua engenharia econômica buscou apoio em instrumentos ortodoxos (redução do déficit público) e monetária (controle da base monetária e elevação da taxa de juros). Mas, o não cumprimento das metas somado à alta dos preços tornaram efêmeros os resultados alcançados e a inflação recuou para índices mensais de um dígito, apenas em setembro. No último trimestre de 87 acelerou-se e se estendeu por todo o ano de 1988.

Em 1989 um 3º choque foi aplicado – o Plano Verão – com resultados novamente efêmeros. A baixa confiança dos agentes econômicos nos efeitos dos tratamentos heterodoxos e a presença de elevados estoques de ativos financeiros nas mãos do público, expuseram a economia a novas tensões de alta, conduzindo-a a fronteira da “hiperinflação”. Sendo assim, no início dos anos 90 – às vésperas do Governo Collor – as taxas de inflação atingiram patamares novamente inusitados. A mais elevada da história econômica do país foi registrada em março de 1990 – 81,3% pelo IGP-DI.

O governo Collor adotou medidas de alto impacto, esperando conter esse processo hiperinflacionário e novas medidas foram aplicadas, notadamente sobre os estoques de ativos financeiros. O Plano Collor desferiu um duro golpe sobre a liquidez da economia e o sequestro de ativos financeiros atingiu 70% das disponibilidades líquidas dos agentes econômicos. De um total de Cr$ 2,2 trilhões, foram contingenciados Cr$ 1,6 trilhões e as disponibilidades líquidas que restaram caíram, pós-choque, de 22,58 para 8,62% do PIB brasileiro.

Nos primeiros meses as taxas mensais de inflação recuaram para um dígito ao mês (3,29%) em março, 5,38% em abril e 9,61% em maio. Mas essa aceleração continuou, projetando a taxa do 3º trimestre para mais de 12% ao mês. E a inflação retornou, sob o efeito de fatores como defasagem em preços públicos, pressões de cartéis, desníveis na estrutura interna dos preços, choques externos de oferta, exacerbação de conflitos distributivos e, preponderantemente, uma cultura inflacionária viciada e disseminada.

Enfim, a inflação brasileira resistiu mais uma vez e o sequestro de liquidez e os anúncios de austeridade pública, não foram suficientes. O PIB recuou 4%, o desemprego aumentou e a demanda por bens e serviços se contraiu, mas a variação inflacionária dos preços voltou ao patamar de 4 dígitos anuais.