O Que Significa a Expressão “Guerra Fria”? Como Ocorreu a Ruptura Entre EUA e URSS? Que Alianças Militares Conduziram à Guerra Fria? O Que Foi a “Coexistência Pacífica”?
A expressão “Guerra Fria” foi utilizada pela primeira vez por um comentarista político americano quando se referiu à tensão entre a URSS e seus antigos aliados. Posteriormente, a expressão se popularizou a fim de caracterizar o confronto político, militar, econômico e ideológico entre os EUA e a URSS.
Muito se tem escrito sobre suas origens e por que começou, elaborando-se opiniões controvertidas e algumas recuando até o surgimento da URSS, contra quem o Bloco Capitalista empreendeu vários atos de hostilidade como a invasão do território soviético e a criação do Cordão Sanitário.
Abandonando-se essas explicações preferimos considerar as mudanças ocorridas na política internacional com a Segunda Guerra. Antigas potências foram vencidas (Alemanha, Itália e Japão) e mesmo as vencedoras (França e Inglaterra) arruinaram-se, perderam a condição de polos do poder mundial e viram o desmoronamento de seus impérios, dificultando sua recuperação econômica.
Em contrapartida, os EUA e a URSS, dispondo de fabulosos recursos materiais e humanos, de vastos territórios e de imenso potencial bélico, surgiram como superpotências, em torno das quais gravitavam os Estados Capitalistas e Socialistas.
Os EUA inicialmente possuíram inúmeras vantagens (a guerra não atingira seu território e até 1949 monopolizavam armas atômicas) que lhes davam certa superioridade sobra a URSS. Além disso, esta fora invadida, perdera quase 24 milhões de homens e tivera regiões arrasadas pela guerra contra o Eixo.
Diversos historiadores consideravam que a política estalinista no pós-guerra foi mais defensiva. Eles apontavam a impraticabilidade de uma ofensiva soviética, não só porque o país não se recuperara dos estragos causados em seu território, como porque seus efetivos militares haviam se reduzido de 11 milhões para 3 milhões de homens, sem esquecer que até 1949 não possuía bomba atômica.
No entanto, os movimentos revolucionários vitoriosos passavam a ter proteção soviética, além dos casos específicos da Europa Oriental e dos Bálcãs, onde a presença de tropas soviéticas acabou assegurando vitória de Partidos Comunistas locais.
Ainda que tal política visasse a rodear a URSS de Estados Socialistas, a preocupação maior era defensiva: para evitar que esses países servissem de trampolim para a invasão da URSS, assim como ocorrera nos dois conflitos mundiais. Esta política intensificou a Guerra Fria, ações específicas por parte dos EUA de 1945 a 1949 provocaram contramedidas russas como o rígido controle sobre a Europa Oriental, por exemplo.
Principais Ocorrências
Costuma-se apresentar o ano de 1947 como o marco inicial da ruptura entre as duas superpotências, quando o ex-presidente Harry Truman formulou sua doutrina comprometendo-se a fornecer auxílio econômico e militar à Grécia, à Turquia e a todos os países que “resistiam às tentativas de subjugação promovidas por minorias armadas”. Pouco depois se instituiu o Plano Marshall (1947) a fim de fornecer ajuda econômica e técnica aos países europeus arruinados pela guerra.
Como contramedida, a URSS organizou o COMINFORM (“Comunismo Internacional Revolucionário”) com a função de coordenar a ação dos partidos comunistas contra o Plano Marshall que, na prática, visava aumentar o controle da URSS sobre os partidos comunistas do Bloco Socialista. Além disso, também criou o “Conselho de Assistência Econômica Mútua” (COMECON) que visava integrar economicamente o Bloco Socialista – embora até a morte de Stalin, limitou-se a concretizar acordos econômicos e financeiros entre países da Europa Oriental.
Entre 1948 e 1949 a Alemanha surgiu como área de tensão internacional e, em resposta à uniformização administrativa (americana, francesa e inglesa), os soviéticos estabeleceram o Bloqueio de Berlin. Este cortava as comunicações fluviais e terrestres dos seus antigos aliados com as zonas que possuíam naquela cidade; restou aos ocidentais estabelecer uma ponte aérea para abastecer suas zonas.
Nesse mesmo ano, o Bloco Capitalista criou a República Federal da Alemanha (RFA, com capital em Bonn) beneficiando-se do Plano Marshall. Em resposta, os soviéticos se retiraram de sua zona que foi transformada na República Democrática Alemã (com capital em Berlin) integrada ao mundo socialista.
Se bem que o Bloco Socialista sofresse uma ruptura com o rompimento das relações entre a URSS e a Iugoslávia (1948), a vitória de Mao Tsé-tung na China (1949) e a consolidação das Democracias Populares na Europa Oriental levaram a reforçar sua posição militar na Europa pela criação da OTAN. Esta reunia todos os países americanos – à exceção do Canadá – em um sistema militar multilateral, em virtude do qual os signatários se comprometiam a prestar ajuda mútua caso algum deles fosse atacado.
A inclusão da República Federal da Alemanha na OTAN e seu rearmamento provocaram vivos protestos da URSS, que organizou o Pacto de Varsóvia (1955) reunindo a URSS e as Democracias Populares da Europa Centro-Oriental (com exceção da Iugoslávia), estabelecendo a cooperação e a assistência militar caso um dos signatários fosse agredido. Convencionou-se um comando militar único, confiado aos soviéticos. Dele se retirou a Albânia (1968) que se ligou à China.
Os antigos Estados Socialistas (Hungria, Polônia e República Tcheca) foram admitidos na OTAN em 1999. Com a consolidação da República Popular da China, o início da Guerra da Coreia e a derrota francesa na Indochina (1954), os EUA ampliaram seu esquema de segurança militar estendendo-o à Ásia Oriental.
Inúmeras outras alianças militares bilaterais completaram o sistema defensivo da URSS e dos EUA. Estas superpotências, evitando um choque direto, se lançaram à intensa propaganda ideológica, à corrida armamentista criando um equilíbrio de terror. Novas crises eram constantes ameaças a uma guerra total, como ocorreu na Guerra da Coréia (1950 / 1953).
Pela Conferência do Cairo (1943) fora convencionada a independência da Coréia após a expulsão dos japoneses da região e determinou-se a divisão do país em áreas de influência americana (o Sul) e soviética (o Norte). Em 1948 ocorreu a criação de dois Estados coreanos.
Em 1950 os norte-coreanos invadiram a Coréia do Sul, a fim de unificar o país e acreditando que uma rápida ofensiva colocaria os EUA diante de um fato consumado: _ a perda de uma área de influência. Mas, o rápido desembarque das tropas americanas antecedeu os contingentes militares da ONU.
Contido o avança americano, deu-se a contraofensiva que foi seguida da invasão da Coréia do Norte. A intervenção da China aumentou a tensão internacional e temia-se uma terceira guerra, tanto mais que o General Mac Arthur (comandante das forças capitalistas) defendia o bombardeio atômico à China.
Pressionado pela Inglaterra e França, o presidente Truman destituiu Mac Arthur, mas o impasse militar levou à conclusão do Armistício que fixava o paralelo 38º como limite entre as duas Coreias. O conflito custou 2,5 milhões de mortes e envolveu quase 20 países, embora a desintegração da URSS e da Europa Socialista tenha acabado com a Guerra Fria em 1991.
A Coexistência Pacífica
A expressão é empregada para designar a política de distensão, entendimento e cooperação adotada progressivamente pelos EUA e pela URSS, a fim de aliviar as tensões e os conflitos provocados pela Guerra Fria. Vários fatores contribuíram para essa mudança, tais como:
- O resultado da Guerra da Coréia, que demonstrou o equilíbrio de forças militares dos blocos liderados pelas duas superpotências.
- A recuperação da Europa, onde a Inglaterra e a França reagiram à condição de meros satélites dos EUA, adotaram posições independentes e mostraram que uma nova guerra mundial causaria ruínas irreparáveis à nações inteiras.
- O rompimento da unidade do Bloco Socialista, onde o conflito entre a China e a URSS provocou divisões nos Partidos Comunistas, evidenciou Pequim como o novo centro da polarização e retirou da URSS a condição de centro dirigente do movimento comunista internacional. (1962)
- A descolonização, projetando o Terceiro Mundo no cenário da política internacional.
- A morte de Stalin (1953) e a ascensão de Krutschev na URSS, bem como o esmagamento do movimento do Senador McCarthy e a eleição de John Kennedy nos EUA facilitaram o “esfriamento” da Guerra Fria.
A Coexistência Pacífica manifestou-se mediante o reconhecimento da República Federal da Alemanha pela URSS (1955) e a resolução do problema da Áustria, tornada independente e aliviando a tensão na Europa. Em 1963, EUA e URSS firmaram dois acordos estabelecendo o “telefone vermelho” (ligação direta entre o Kremlin e a casa Branca) e o compromisso de reduzir o risco de uma guerra nuclear por acidente.
As duas superpotências procuraram firmar tratados fixando medidas para o controle de armamentos (Tratado de Moscou) e o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, em que os signatários se comprometiam a não transferir armas nucleares a outros países. Com a presença de 178 países signatários, em 1995 decidiu-se que esse último tratado permaneceria em vigor por tempo indeterminado.