Nações e Nacionalismos na Ordem Internacional Contemporânea

O Que é o Nacionalismo? O Estado-Nação é um Fenômeno Natural ou Historicamente Contingente? Como o Nacionalismo se Expressa na Política Internacional e Como a Emergência do Estado-Nação Alterou a Ordem Internacional?

Certamente, já assistimos a um evento nacionalista ou participamos de algum, ou ainda testemunhamos uma pessoa ou um grupo atuarem guiados por um sentimento nacionalista sem se darem conta disso. Nossa vida em sociedade, como cidadãos de determinado país, está repleta de símbolos cívicos e de eventos que comemoram a nossa unidade como uma nação. São elementos associados tanto a uma ideologia quanto a um sentimento nacionalista os seguintes:

  • a bandeira e o hino nacional;
  • a história da constituição do Estado-nação – inclusive da delimitação das fronteiras nacionais;
  • a celebração de heróis associados ao processo de independência;
  • as datas comemorativas – como o dia da independência e da proclamação da república.

O caráter cotidiano das manifestações cívicas fica mais claro quando entramos em contato com cidadãos de outra nação. Os valores, símbolos e costumes, que podem parecer naturais e cotidianos, são relativizados e colocados em perspectiva quando temos a oportunidade de vivenciar manifestações nacionalistas que não as nossas.

Movimentos separatistas

 

A política internacional tem uma história que precede a emergência do nacionalismo e a formação do Estado-nação. Contudo, a história da política internacional foi substancialmente modificada com a consolidação de um sistema de Estados a partir do século XVIII, até que, por volta de 1970, passasse a ser largamente aceito que a identidade nacional e o Estado-nação formavam a base da ordem internacional.

Atualmente quando pensamos em manifestações do nacionalismo na política internacional, muitas vezes, remetemo-nos aos movimentos separatistas e contestadores de determinada estrutura de Estado. Pensar em nacionalismo na política internacional é pensar, necessariamente, em formas de conflito? Certamente, não. No entanto, também é verdade que, após as duas grandes guerras, o nacionalismo passou a ser associado às manifestações de extrema direita em regimes totalitários, como o fascismo e o nazismo, geralmente, xenófobos.

OBSERVAÇÃO: São exemplos de movimentos separatistas e contestadores o movimento pela separação do território basco na Espanha e da Irlanda do Norte – cuja luta armada é representada, respectivamente, pelo ETA (1959-presente) e pelo IRA – e os movimentos pela criação de um Estado para determinada nação, que reclama direitos sobre um território, como no caso da Palestina.

O silêncio produzido após a Segunda Guerra Mundial sobre o nacionalismo foi resultado de o próprio nacionalismo ter sido apontado como o principal responsável pelos grandes conflitos do início do século. A rejeição ao nacionalismo – e ao princípio da autodeterminação nacional – ficou patente na divisão da Alemanha (1947) e da Coreia (1945). No entanto, esse silêncio foi rapidamente quebrado pelos movimentos de descolonização na África e na Ásia, ao longo da segunda metade do século XX.

Na medida em que Estados-nações europeus com valores nacionalistas estenderam a sua dominação a outras partes do mundo, sobretudo na forma de dominação ou conflito imperialista, as sociedades sob o seu domínio foram impelidas a utilizar a ideia nacionalista em prol dos movimentos de libertação. Portanto, o imperialismo criou as bases para a difusão de ideias de autodeterminação que, posteriormente, viriam a justificar as lutas por independência dos antigos colonizadores.

Conflitos nacionalistas

 

A compreensão de que o nacionalismo, na política internacional, está associado ao conflito não ocorre somente devido à longa história contemporânea de libertação nacional da Palestina e do seu conflito com Israel, por exemplo. Essa compreensão existe pelo fato de o fim da Guerra Fria ter testemunhado focos de conflito nacionalistas que não se restringiam a países do Terceiro Mundo.

De fato, a década de 1990 assistiu a formas de conflitos nacionalistas que, dadas as suas intensidade e repercussão internacional, associaram o uso atual do conceito a uma situação de conflito e instabilidade internacional. Contudo devemos notar que, por muito tempo, o contrário foi verdadeiro – o nacionalismo foi fonte de estabilidade na política internacional.

Formação da Estrutura de Estados

O desenvolvimento de uma ordem vestfaliana de Estados soberanos a partir do século XVII foi, progressivamente, consolidando um sistema de Estados que, como afirma Weber, tem poder e autoridade sobre um território delimitado e sobre a sociedade que ocupa esse território.

Ao contrário do que muitas vezes se supõe, a formação da estrutura dos Estados na Europa não ocorreu de modo concomitante ao desenvolvimento da ideia de nação. Essa formação ocorreu de forma tardia, produzindo o fenômeno do Estado-nação.

Nacionalismo

 

Geralmente, é consensual demarcar a década de 1750 como o período a partir do qual o nacionalismo se torna um componente relevante da política internacional. Nessa época, também podemos identificar o primeiro conflito entre Estados que emprega o nacionalismo e que tem dimensões globais: a guerra entre Inglaterra e França em meados do século XVIII, entre 1750 e 1815.

A emergência do componente nacional do Estado e da ideia de nacionalismo a partir do século XVIII “nacionalizou” esse sistema de Estados e esse modelo de organização territorial. Isso ocorreu quando a figura moderna do Estado-nação passou, por sua vez, a ser exportada para além da Europa, a partir do século XIX, em dinâmicas de dominação externa.

A) Estado-Nação – Historicamente, o nacionalismo forneceu a base para a difusão global de Estados-nações. Durante o final do século XIX e ao longo do século XX, o Estado-nação foi identificado como: (1) o símbolo da modernidade; (2) a estrutura de organização político-social indispensável para a modernização e a aquisição dos benefícios do progresso.

Dessa forma, muitos líderes do movimento anticolonial justificavam a sua luta pela autodeterminação. Pela expansão, por meio da dominação e do modelo de sucesso, o Estado-nação tornou-se a unidade fundamental da ordem internacional.

B) Definição de Nacionalismo – O nacionalismo pode ser definido como uma ideia de origem europeia segundo a qual o mundo é dividido em nações que fornecem o foco principal de identidade e lealdade política. Tais nações, por sua vez, dependem, para a sua existência e afirmação, da possibilidade de autodeterminação nacional.

Nesse sentido, o nacionalismo pode ser entendido como uma ideologia ou um sentimento segundo o qual toda nação deveria possuir o seu próprio Estado ou, ao menos, alguma forma de autodeterminação territorial. A nação pode coincidir com o Estado. Isso, todavia, nem sempre ocorre e deve, portanto, ser tratado como uma contingência histórica, e não como parte da definição conceitual de nacionalismo. Existem:

  • nações sem Estados – é o que ocorre na Palestina, além dos casos dos ciganos e, por muito tempo, dos judeus;
  • nações que pertencem a mais de um Estado – por exemplo, a nação Tutsi, que vive em Ruanda, no Congo e em Burundi – e
  • Estados multinacionais – por exemplo, o Canadá, a Índia, a Rússia e a África do Sul.

 C) Conceito de Nação – É praticamente impossível falar de nacionalismo sem trazer à tona um conceito a ele associado, o de nação. Nação é um conceito que pode ser definido de diversas formas e que, muitas vezes, é tratado, equivocadamente, como sinônimo de Estado. Isso ocorre porque, até meados do século XX, era comum utilizar os dois termos para se referir à mesma coisa no âmbito internacional – Estados soberanos capazes de participar de um conflito armado e de implementar a sua própria política externa.

Max Weber define o Estado como uma organização territorial que exerce controle legítimo sobre um território definido, de forma que não seja ameaçada, internamente, por competição de poder, nem, externamente, por intervenção. Já a nação é definida por Weber como uma comunidade de sentimento que se manifestaria, adequadamente, em um Estado próprio e, portanto, tende a produzir um Estado próprio. Podemos atualizar a definição de Weber para que ela inclua também comunidades autodefinidas que buscam autonomia dentro da estrutura de um Estado.

D) Formação do Nacionalismo – Além da distinção entre Estado e nação, e da íntima relação entre nação e nacionalismo, há algumas questões que dividem estudiosos do tema acerca da formação do nacionalismo. Vejamos:

  • O nacionalismo depende da prévia existência de nações?
  • Nações são um fenômeno exclusivamente moderno, isto é, datam do século XVIII, ou podem remeter a épocas mais remotas? O Egito antigo, por exemplo, era uma nação? Os celtas podem ser considerados uma nação?
  • Que fatores devemos privilegiar para explicar o comportamento nacionalista?
  • Qual é o peso desempenhado por fatores domésticos – tais como linguagem e religião compartilhadas – e por fatores externos – como ameaças externas ou apoio de Estados mais poderosos, o que ocorreu na criação do Sudão do Sul em 2011 – na formação de uma nação e do sentimento ou ideologia nacionalistas?

E) Entendimento do Nacionalismo – O nacionalismo pode ser entendido de três maneiras: (a) como ideologia; (b) como sentimento, quando informa o senso de identidade das pessoas. (c) como forma de política, quando é incorporado por um movimento a fim de atingir metas específicas. Em termos de categorias conceituais, há dois tipos de ideologias nacionalistas:

E1) Nacionalismo Cívico: ocorre quando o pertencimento a um Estado e o compartilhamento dos seus valores cívicos determinam a manifestação da sua nacionalidade. Um bom exemplo é o dos Estados Unidos.

Apesar de receberem milhares de imigrantes de várias partes do mundo desde o século XIX, os norte-americanos conseguiram estimular a formação de uma nação homogênea por meio da educação em massa e dos incentivos para que os novos cidadãos compartilhassem dos símbolos e das manifestações cívicas. Há numerosas comunidades de irlandeses, italianos e chineses, por exemplo, que não deixam de se autodenominar, primeiramente, como norte-americanos.

E2) Nacionalismo Étnico: ocorre quando o pertencimento a um grupo específico, que compartilha raízes históricas comuns e outras características – religião, idioma –, é o principal elemento a definir a sua nacionalidade.

Nesse caso, a nação, muitas vezes, pode ter precedido o Estado – como no caso do Estado de Israel. É também comum ter havido Estados multinacionais, ou seja, compostos de diversas nações, como o Império Austro-Húngaro.

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DA GUERRA FRIA À COEXISTÊNCIA PACÍFICA

O Que Significa a Expressão “Guerra Fria”? Como Ocorreu a Ruptura Entre EUA e URSS? Que Alianças Militares Conduziram à Guerra Fria? O Que Foi a “Coexistência Pacífica”?

guerra-friaA expressão “Guerra Fria” foi utilizada pela primeira vez por um comentarista político americano quando se referiu à tensão entre a URSS e seus antigos aliados. Posteriormente, a expressão se popularizou a fim de caracterizar o confronto político, militar, econômico e ideológico entre os EUA e a URSS.

Muito se tem escrito sobre suas origens e por que começou, elaborando-se opiniões controvertidas e algumas recuando até o surgimento da URSS, contra quem o Bloco Capitalista empreendeu vários atos de hostilidade como a invasão do território soviético e a criação do Cordão Sanitário.

Abandonando-se essas explicações preferimos considerar as mudanças ocorridas na política internacional com a Segunda Guerra. Antigas potências foram vencidas (Alemanha, Itália e Japão) e mesmo as vencedoras (França e Inglaterra) arruinaram-se, perderam a condição de polos do poder mundial e viram o desmoronamento de seus impérios, dificultando sua recuperação econômica.

Em contrapartida, os EUA e a URSS, dispondo de fabulosos recursos materiais e humanos, de vastos territórios e de imenso potencial bélico, surgiram como superpotências, em torno das quais gravitavam os Estados Capitalistas e Socialistas.

guerra-fria-1Os EUA inicialmente possuíram inúmeras vantagens (a guerra não atingira seu território e até 1949 monopolizavam armas atômicas) que lhes davam certa superioridade sobra a URSS. Além disso, esta fora invadida, perdera quase 24 milhões de homens e tivera regiões arrasadas pela guerra contra o Eixo.

Diversos historiadores consideravam que a política estalinista no pós-guerra foi mais defensiva. Eles apontavam a impraticabilidade de uma ofensiva soviética, não só porque o país não se recuperara dos estragos causados em seu território, como porque seus efetivos militares haviam se reduzido de 11 milhões para 3 milhões de homens, sem esquecer que até 1949 não possuía bomba atômica.

No entanto, os movimentos revolucionários vitoriosos passavam a ter proteção soviética, além dos casos específicos da Europa Oriental e dos Bálcãs, onde a presença de tropas soviéticas acabou assegurando vitória de Partidos Comunistas locais.

Ainda que tal política visasse a rodear a URSS de Estados Socialistas, a preocupação maior era defensiva: para evitar que esses países servissem de trampolim para a invasão da URSS, assim como ocorrera nos dois conflitos mundiais. Esta política intensificou a Guerra Fria, ações específicas por parte dos EUA de 1945 a 1949 provocaram contramedidas russas como o rígido controle sobre a Europa Oriental, por exemplo.

Principais Ocorrências

Costuma-se apresentar o ano de 1947 como o marco inicial da ruptura entre as duas superpotências, quando o ex-presidente Harry Truman formulou sua doutrina comprometendo-se a fornecer auxílio econômico e militar à Grécia, à Turquia e a todos os países que “resistiam às tentativas de subjugação promovidas por minorias armadas”. Pouco depois se instituiu o Plano Marshall (1947) a fim de fornecer ajuda econômica e técnica aos países europeus arruinados pela guerra.

Como contramedida, a URSS organizou o COMINFORM (“Comunismo Internacional Revolucionário”) com a função de coordenar a ação dos partidos comunistas contra o Plano Marshall que, na prática, visava aumentar o controle da URSS sobre os partidos comunistas do Bloco Socialista. Além disso, também criou o “Conselho de Assistência Econômica Mútua” (COMECON) que visava integrar economicamente o Bloco Socialista – embora até a morte de Stalin, limitou-se a concretizar acordos econômicos e financeiros entre países da Europa Oriental.

guerra-fria-2Entre 1948 e 1949 a Alemanha surgiu como área de tensão internacional e, em resposta à uniformização administrativa (americana, francesa e inglesa), os soviéticos estabeleceram o Bloqueio de Berlin. Este cortava as comunicações fluviais e terrestres dos seus antigos aliados com as zonas que possuíam naquela cidade; restou aos ocidentais estabelecer uma ponte aérea para abastecer suas zonas.

Nesse mesmo ano, o Bloco Capitalista criou a República Federal da Alemanha (RFA, com capital em Bonn) beneficiando-se do Plano Marshall. Em resposta, os soviéticos se retiraram de sua zona que foi transformada na República Democrática Alemã (com capital em Berlin) integrada ao mundo socialista.

Se bem que o Bloco Socialista sofresse uma ruptura com o rompimento das relações entre a URSS e a Iugoslávia (1948), a vitória de Mao Tsé-tung na China (1949) e a consolidação das Democracias Populares na Europa Oriental levaram a reforçar sua posição militar na Europa pela criação da OTAN. Esta reunia todos os países americanos – à exceção do Canadá – em um sistema militar multilateral, em virtude do qual os signatários se comprometiam a prestar ajuda mútua caso algum deles fosse atacado.

A inclusão da República Federal da Alemanha na OTAN e seu rearmamento provocaram vivos protestos da URSS, que organizou o Pacto de Varsóvia (1955) reunindo a URSS e as Democracias Populares da Europa Centro-Oriental (com exceção da Iugoslávia), estabelecendo a cooperação e a assistência militar caso um dos signatários fosse agredido. Convencionou-se um comando militar único, confiado aos soviéticos. Dele se retirou a Albânia (1968) que se ligou à China.

Os antigos Estados Socialistas (Hungria, Polônia e República Tcheca) foram admitidos na OTAN em 1999. Com a consolidação da República Popular da China, o início da Guerra da Coreia e a derrota francesa na Indochina (1954), os EUA ampliaram seu esquema de segurança militar estendendo-o à Ásia Oriental.

Inúmeras outras alianças militares bilaterais completaram o sistema defensivo da URSS e dos EUA. Estas superpotências, evitando um choque direto, se lançaram à intensa propaganda ideológica, à corrida armamentista criando um equilíbrio de terror. Novas crises eram constantes ameaças a uma guerra total, como ocorreu na Guerra da Coréia (1950 / 1953).

Pela Conferência do Cairo (1943) fora convencionada a independência da Coréia após a expulsão dos japoneses da região e determinou-se a divisão do país em áreas de influência americana (o Sul) e soviética (o Norte). Em 1948 ocorreu a criação de dois Estados coreanos.

guerra-fria-3Em 1950 os norte-coreanos invadiram a Coréia do Sul, a fim de unificar o país e acreditando que uma rápida ofensiva colocaria os EUA diante de um fato consumado: _ a perda de uma área de influência. Mas, o rápido desembarque das tropas americanas antecedeu os contingentes militares da ONU.

Contido o avança americano, deu-se a contraofensiva que foi seguida da invasão da Coréia do Norte. A intervenção da China aumentou a tensão internacional e temia-se uma terceira guerra, tanto mais que o General Mac Arthur (comandante das forças capitalistas) defendia o bombardeio atômico à China.

Pressionado pela Inglaterra e França, o presidente Truman destituiu Mac Arthur, mas o impasse militar levou à conclusão do Armistício que fixava o paralelo 38º como limite entre as duas Coreias. O conflito custou 2,5 milhões de mortes e envolveu quase 20 países, embora a desintegração da URSS e da Europa Socialista tenha acabado com a Guerra Fria em 1991.

A Coexistência Pacífica

coexistencia-pacificaA expressão é empregada para designar a política de distensão, entendimento e cooperação adotada progressivamente pelos EUA e pela URSS, a fim de aliviar as tensões e os conflitos provocados pela Guerra Fria. Vários fatores contribuíram para essa mudança, tais como:

  • O resultado da Guerra da Coréia, que demonstrou o equilíbrio de forças militares dos blocos liderados pelas duas superpotências.
  • A recuperação da Europa, onde a Inglaterra e a França reagiram à condição de meros satélites dos EUA, adotaram posições independentes e mostraram que uma nova guerra mundial causaria ruínas irreparáveis à nações inteiras.
  • O rompimento da unidade do Bloco Socialista, onde o conflito entre a China e a URSS provocou divisões nos Partidos Comunistas, evidenciou Pequim como o novo centro da polarização e retirou da URSS a condição de centro dirigente do movimento comunista internacional. (1962)
  • A descolonização, projetando o Terceiro Mundo no cenário da política internacional.
  • A morte de Stalin (1953) e a ascensão de Krutschev na URSS, bem como o esmagamento do movimento do Senador McCarthy e a eleição de John Kennedy nos EUA facilitaram o “esfriamento” da Guerra Fria.

A Coexistência Pacífica manifestou-se mediante o reconhecimento da República Federal da Alemanha pela URSS (1955) e a resolução do problema da Áustria, tornada independente e aliviando a tensão na Europa. Em 1963, EUA e URSS firmaram dois acordos estabelecendo o “telefone vermelho” (ligação direta entre o Kremlin e a casa Branca) e o compromisso de reduzir o risco de uma guerra nuclear por acidente.

As duas superpotências procuraram firmar tratados fixando medidas para o controle de armamentos (Tratado de Moscou) e o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, em que os signatários se comprometiam a não transferir armas nucleares a outros países. Com a presença de 178 países signatários, em 1995 decidiu-se que esse último tratado permaneceria em vigor por tempo indeterminado.

 

 

 

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O Mundo Socialista Pós-Guerra

Quais Mudanças Políticas Ocorreram Após a Morte de Stálin? O Que Foi a Coexistência Pacífica? Por Que os Soviéticos Incentivavam as Guerras de Libertação no Continente Africano?

 

Socialistas e ComunistasApós 1945, a URSS retomou suas anteriores diretrizes interrompidas com a 2ª Guerra, que havia provocado pesadas perdas humanas e materiais soviéticos. O 4º Plano Quinquenal (1946/50) fixou a reconstrução econômica, tendo seus resultados limitados por causa do desvio de recursos para a fabricação de armamentos clássicos e nucleares, necessários em virtude da Guerra fria.

O 5º Plano Quinquenal deu prioridade à elevação da produção de equipamentos, ao desenvolvimento da industrialização da Sibéria e da construção de grandes centrais hidrelétricas.

Mas, desde a morte de Stalin (1953) ocorreram mudanças na política econômica, a qual adotou diretrizes mais flexíveis, culminando com a permissão de empresas capitalistas estrangeiras se estabeleceram em território soviético.

Convencidos de seu poderio (bombas atômicas e de nitrogênio), os dirigentes da URSS adotaram uma política interna e externa mais tolerante, renunciando às ameaças de guerra, diminuindo os investimentos em indústrias bélicas e intensificando a produção de bens de consumo a fim de proporcionar melhor nível de vida ao povo soviético.

Refletindo a nova orientação aplicou-se o Plano Setenal (1959-1965) marcado pela descentralização regional, valorização de regiões siberianas favorecidas com a expansão industrial e maior concentração mecânica na agricultura; pelo estímulo à produção energética e pela permissão para as empresas venderem livremente a produção excedente.

A nova orientação da política soviética – proclamando a Coexistência Pacífica – assistiu a crescentes choques entre a China e a URSS. As divergência sino-soviéticas começaram com um pronunciamento do dirigente soviético – na Polônia – criticando o comunismo chinês.

japão século xixDesde então, conflitos na fronteira, a retirada de técnicos, o corte de ajuda soviética à China e as censuras chinesas à política soviética representaram alguns aspectos da cisão entre Moscou e Pequim.

A Coexistência Pacífica foi considerada uma traição à Revolução Socialista e, as afirmativas soviéticas de que a luta armada não constituía a única forma para conquistar o poder, acabaram sendo tachadas pelos chineses de traição ao marxismo revolucionário.

Acusado de posições personalistas e responsabilizado pelos fracassos no desenvolvimento econômico, Krutschev foi destituído (e substituído) por Leonid Brejnev.

Daí, os Planos Quinquenais voltaram a oferecer prioridade à indústria de bens de equipamento, embora os índices apresentassem um desenvolvimento global envolvendo aumento de salário e padrões de consumo; a agricultura permaneceu problemática.

Os soviéticos aumentaram seu apoio às guerras de libertação no continente africano (Etiópia, Angola) e, na Ásia, o crescente expansionismo chinês levou a URSS a reforçar sua aliança militar com o Vietnã – inclusive em sua guerra contra o Camboja. Em 1979, a URSS realizou controvertida invasão ao Afeganistão sob a alegação de impedir a revolução interna de muçulmanos anticomunistas, o que provocou violentos protestos dos EUA, da China e críticas da Romênia.

A morte de Brejnev (1982) elevou Yuri Andropov à condição de secretário-geral do Partido. Seu governo causou mudança na política interna: _ o sistema político deixou de ser dominado por um líder, crescendo os poderes do Partido e do Estado.

Além do mais, a importância dos tecnocratas começou a superar a dos burocratas. O combate à corrupção tornou-se uma das preocupações do governo, mas o desenvolvimento econômico permaneceu insatisfatório – principalmente pela escassez de alimentos.

Os elevados gastos militares vinham reduzindo os investimentos nas indústrias produtoras de bens de equipamento, sem que as indústrias de bens de consumo melhorassem. Os produtos eram de baixa qualidade e escassos.

A produtividade caía porque a centralização econômica limitava a criatividade dos trabalhadores e, em fins da década de 70, era evidente a estagnação econômica.

Ronald ReaganAs relações diplomáticas com a China melhoraram, embora tenham se tornado tensas com os EUA governados por Reagan, empenhado em instalar mísseis nucleares na Europa Ocidental, cortar a venda de cereais à URSS e não hesitando em invadir Granada – no Caribe.

Andropov morreu no início de 1984, ascendendo ao poder Constantin Chernenko que continuou com a campanha contra a corrupção, embora não tenha conseguido completar suas reformas.

A escolha de Mikhail Gorbachev – para suceder Chernenko – representou uma profunda modificação na sociedade com o fim do predomínio dos dirigentes idosos – cujas idades médias excediam 75 anos. Gorbachev anunciou novas diretrizes, as quais se baseavam na Glasnot e na Perestroika.

A Glasnot pode ser entendida como abertura, transparência, mais liberdade e/ou democracia. Implicou a liberdade de imprensa, das artes, cultura, ciência e da política. Significou o aprofundamento da democracia socialista através do voto secreto, da redução dos mecanismos estatais, a permissão para os dissidentes se manifestarem e até viajarem ao exterior. Já Perestroika deve ser entendida como uma reestruturação que representou o conjunto de reformas, visando modernizar a economia soviética.

GorbachevSempre sorridente nas fotos, Gorbachev procurou projetar uma imagem diferente dos dirigentes soviéticos, afirmando a necessidade de a sociedade ter acesso a um padrão de vida mais elevado – o que seria atingido com a racionalização da administração –, o combate à burocracia e a contestação à indiferença e ineficiência dos trabalhadores, visando aumentar os índices de crescimento da produção e resgatar os valores e a dignidade dos indivíduos.

As reformas incluíram a adoção de modernas tecnologias e métodos, a criação de empresas de economia mista (com capitais estrangeiros) e podendo os lucros ser remetidos ao exterior – desde que fossem pagos 20% de impostos.

Nas relações internacionais houve visível esforço de reduzir os pontos de atrito com a China e os EUA, daí as propostas de retiradas das tropas soviéticas no Afeganistão e o empenho em concluir acordos com os americanos reduzindo armamentos – sobretudo nucleares.

Em 1991, o avanço do nacionalismo, da democracia e da liberdade desintegrou a URSS, a qual foi substituída pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI). Nesta, predominou a Rússia (presidida por Boris Yeltsin), mas mantiveram-se fora a Estônia, a Letônia, a Lituânia e a Geórgia. Foi o fim do modelo soviético de socialismo e de Gorbachev, que renunciou em 1991.

Eleito presidente da Rússia, Boris Yeltsin convocou a Assembleia Constituinte, quando começou a desestatização da economia e a liberação de preços das mercadorias, contribuindo para a crescente oposição ao governo.

O ano de 1993 foi marcado pelo conflito entre o Executivo e o Parlamento, tendo este aprovado a demissão de Yeltsin, que não hesitou em bombardear o Legislativo. Contudo, a crise econômica e social favoreceu o crescimento do Partido Liberal Democrático – de tendências ultranacionalistas.

No final de 1994, tropas russas invadiram a Chechênia – que proclamara sua independência três anos antes – sucedendo-se vitórias e derrotas, culminando com o acordo de cessar-fogo prevendo a retirada das tropas invasoras em 1996.

Yeltsin foi reeleito em 1996 e, mesmo assim, não conseguiu pacificar o país e para isso muito contribuíram os boatos sobre seu estado de saúde, abrindo espaços às ambições de novos líderes políticos e chefes militares.

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