Introdução ao Estudo da Economia Como Uma Ciência

Onde Surgiram as Primeiras Atividades Econômicas? Quando a Economia Despontou Como Ciência? Por Que Alguns Setores da Economia Crescem Mais do Que Outros? O Que Significa Déficit Governamental?

Por volta de 4000 a. C. o homem descobriu a agricultura, formando assim as primeiras civilizações e, consequentemente, passou a ter uma vida mais sedentária. Essas primeiras civilizações se formaram em torno de grandes rios: a Mesopotâmia que estava ligada aos Rios Tigre e Eufrates, o Egito, ligado ao rio Nilo, a Índia ao rio Indo e a China ao rio Amarelo. Mas, foi no Oriente Médio que tiveram início as civilizações e, tempos depois, foram se desenvolvendo no Oriente outras civilizações que, sem contar com o poder fertilizante dos grandes rios, ganharam características diversas. As pastoris, como a dos hebreus, ou as mercantis, como a dos fenícios. Cada um desses povos teve, além de uma rica história interna, longas e muitas vezes conflituosas relações com os demais.

Pode-se dizer que na Mesopotâmia já existiam transações econômicas, pois essa civilização é considerada uma das mais antigas da história. Ocupada entre 4.000 a.C. e 539 a.C. por uma série de povos que formaram a nação mesopotâmica, a estreita faixa de terra localizava-se entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio – onde atualmente é o Iraque. Por sua disponibilidade de terras, grande parte de sua riqueza era movida pelas atividades agrícolas. Embora já existissem naquela época atividades comerciais e, portanto, econômicas, ainda não se falava sobre a Economia como Ciência. Já na Renascença, por volta dos séculos XV e XVI, era quase impossível a emergência da Economia como campo específico de estudo, tendo em vista a dominação do Estado e da Igreja, a força dos costumes e as crenças religiosas e filosóficas, além de limitada da atividade econômica.

Vários foram os problemas vividos pelas sociedades antigas e, certamente, em todas as épocas da História universal dessas pequenas comunidades, todas procuraram resolver de alguma forma seus problemas de natureza econômica. Porém, os registros históricos de estudos da economia vistos como conjunto sistematizado de conhecimento são relativamente recentes.

Somente a partir do século XVIII é que a Economia despontou como Ciência e, a partir da Revolução Industrial (final do século XIX) com o motor de combustão interna e a geração de energia elétrica, o progresso econômico foi intenso. Nas últimas décadas do século XX, seu estudo ganhou novo e inesperado impulso. Após os conflitos evidenciados nos períodos de guerras (a primeira entre 1914 e 1918 e a segunda entre 1939 e 1945), os estudos da época tinham foco em como conseguir rapidamente o equilíbrio econômico das nações, pois havia uma grande massa de desempregados.

Mas, se já fazíamos transações econômicas em nosso dia a dia, por que falar da Economia como Ciência? Em um grupo formado por várias pessoas, podemos dizer que cada uma delas age de forma diferente diante de um problema econômico. Contudo, ao ocupar um cargo de responsabilidade em uma empresa ou na administração pública, essas pessoas precisam ir além da subjetividade, ou seja, necessitarão de conhecimentos teóricos mais sólidos para poder analisar os problemas econômicos no contexto organizacional.  

Questões Econômicas Mais Relevantes

  • Aumento de Preços: Os aumentos de preços se justificam em função da existência de inflação. Quando há inflação nas economias, o ajuste de preços ocorre em função da falta de credibilidade do empresário em relação à estabilidade da economia. Na verdade, não ocorre equilíbrio entre oferta e procura.
  • Períodos de Crise Econômica: Pode-se dizer que há uma relação direta entre os períodos de crise econômica com o montante que os governos gastam dos recursos que têm a sua disposição. Quando se gasta mais do que o disponível, é gerado um desequilíbrio nas contas dos governos, levando o país a enfrentar crises. A consequência é a elevada carga tributária, o que ajuda a reduzir o consumo da sociedade, provocando menor produção e mais desemprego.
  • Desemprego: tem forte relação com os setores produtivos e, estes, dependem do poder aquisitivo dos consumidores para decidirem o volume que será produzido. Portanto, o ideal é que haja crescimento econômico de forma a utilizar a plena capacidade produtiva disponível, ou seja, direcionar a economia ao pleno emprego dos recursos.
  • Setores Que Crescem Mais Que Outros: Atualmente observa-se que alguns setores crescem mais do que outros, como por exemplo a indústria automobilística, que buscou investir de maneira acentuada na aceleração do crescimento e desenvolvimento tecnológico para que pudesse atender à exigência do consumidor ao buscar pelo conforto, pelo prazer e pela satisfação pessoal. Ou negativamente, a indústria de Bens de Capital, que para vender uma nova máquina, depende de os consumidores comprarem mais do que têm comprado.
  • Diferenças Salariais: Desde a formação da sociedade brasileira, evidenciamos que os grandes centros pagam mais pelo trabalho do que as regiões que acusam menor índice de desenvolvimento e crescimento econômico. Tal colocação nos levará a entender a questão do “custo de vida” que tanto ouvimos falar. Isso se deve à realidade que nas capitais mais desenvolvidas os preços são maiores, em comparação com os centros menos desenvolvidos, o que leva a gastos maiores no primeiro em relação ao segundo.
  • Crises no Balanço de Pagamentos: Em uma economia globalizada os acordos econômicos são feitos de maneira equilibrada; ou seja, não está previsto a determinado país exportar mais do que importará deste país. Quando esse “Balanço de Pagamentos” está em desequilíbrio, ou seja, há mais importação (compra) do que exportações (venda), dizemos que há crise no balanço de pagamentos.
  • Valorização (ou Desvalorização) na Taxa de Câmbio: O dólar é o parâmetro para comparação entre as moedas mundiais, por ser considerada uma moeda forte e estável. Quando existe algum aumento do dólar os exportadores acham bom, pois isso torna o produto brasileiro mais competitivo.
  • Ociosidade em Alguns Setores da Atividade: Vários são os fatores que determinam a “atividade”, seja pela melhor maximização dos recursos utilizados, pelo poder aquisitivo dos consumidores, seja pela necessidade de o patrão aumentar seus preços ou pela concorrência acirrada em função da necessidade de sobrevivência. Enfim, os setores econômicos sempre serão influenciados pelas decisões dos consumidores, dos empresários (produtores) ou pelo governo como mediador.
  • Taxas de Juros: Taxa de juros como o custo do dinheiro em um determinado tempo. Em palavras mais simples, quanto custa obter recurso (dinheiro) de alguém? Esse custo é explicado pela taxa de juros. No Brasil, a taxa de juros ainda é um fator que restringe o crédito ou a busca por tal dinheiro. Devemos entender que todo consumidor, ao obter dinheiro, é conduzido ao consumo. Tal procedimento faz com que o detentor do capital, percebendo mais dinheiro na Economia, eleve seus preços provocando o aumento dos índices de inflação. Então, a taxa de juros passa a ser uma ferramenta de controle, coibindo tal procedimento. ([1])
  • Déficit Governamental: Tem forte relação com a questão da dívida externa, uma vez que essa tem fundamento na ação do governo de utilizar recursos oriundos de economias estrangeiras passando a dever para estes.
  • Elevação de Impostos e Tarifas Públicas: Devemos nos lembrar que, para movimentar a “máquina pública”, o governo necessita de recursos, ou seja, o dinheiro que movimenta tal máquina é originado pelo pagamento de impostos e tributos. Quando o governo arrecada mais do que consome, há um aumento em impostos e tarifas.

Conforme Mochón (2007), os impostos são instrumentos fundamentais da política econômica. A incidência de um imposto mede a maneira como se divide a carga do imposto entre os participantes do mercado. Os impostos reduzem a renda privada e o gasto privado e, ao mesmo tempo, são fontes de recursos para o gasto público. Conforme temos evidenciado, o governo também se usa do advento do imposto para alavancar determinados setores econômicos, como o foi em certos momentos, quando da redução da alíquota do IPI para incentivar o aumento da venda de automóveis.

REFERÊNCIAS

  MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. PASSOS, C. R. M; NOGAMI, O. Princípios de economia. 5. ed. ver. São Paulo: Cengage Learning, 2008. ROSSETTI, J. P. Introdução à Economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

([1])  MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007

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O Sistema de Gestão Econômica nas Organizações

Que Elementos Compõem um Sistema de Gestão Econômica? Quais São os Cinco Pressupostos Básicos Que Suportam o Sistema de Gestão Econômica nas Organizações?

 O Sistema de Gestão Econômica (GECON) é um modelo gerencial composto por um sistema de gestão e um sistema de informações, o qual visa subsidiar os gestores para o processo decisório. De origem brasileira, esse modelo teve os estudos iniciados no final da década de 1970 por diversos pesquisadores. Naquela época, os modelos de avaliação de desempenho e sistemas de informações gerenciais não estavam adequados às necessidades do mercado altamente competitivo e globalizado, conforme discutido anteriormente.

Dessa forma, o sistema de gestão econômica (GECON) pode ser entendido como um modelo gerencial de administração por resultados econômicos corretamente mensurados. Esse modelo reúne conceitos integrados dentro de um enfoque holístico e sistêmico, para a eficácia empresarial, e compreende basicamente os seguintes elementos integrados: um modelo de gestão, mensuração e informação do resultado econômico, apoiados por um sistema de informações para avaliação econômico-financeira.

No modelo GECON os gestores tomam decisões relacionadas ao resultado econômico (lucro) mensurado, na busca da continuidade e sobrevivência da organização para o cumprimento de sua missão. Esse modelo é composto dos seguintes elementos:

  • Modelo de Gestão
  • Sistema de Gestão
  • Modelo de Decisão
  • Modelo de Mensuração
  • Modelo de Informação
  • Sistema de Informação e Avaliação Econômico-Financeiro

De acordo com SANTOS ([1]), pelo modelo, cada gestor assume o papel de “dono” de sua área de responsabilidade, como se esta fosse uma miniempresa dentro da organização sempre atendendo o princípio da controlabilidade que atribui a ele a gestão organizacional, econômica, financeira e patrimonial de seu centro de resultado. Assim, o modelo propicia que os gestores possam tomar decisões, otimizando os resultados pelo lado dos custos e, além disso, escolher alternativas de decisão que levem em consideração volumes, otimização do mix de produtos e serviços, prazos operacionais, prazos de estocagem, utilização eficiente de recursos, prazos operacionais de entrega e recebimento, prazos financeiros de pagamentos, recebimentos, etc. Mas, para atingir seu objetivo o GECON necessita de alguns modelos como formas de integração do sistema todo, são eles:

  • Gestão: compreendendo o conjunto de princípios, crenças e valores que orientam o processo decisório;
  • Decisão: são as ações efetuadas pelos gestores da entidade;
  • Mensuração do resultado: relativo ao processo de mensuração física e monetária das ações planejadas e realizadas pela entidade. É a partir dele que a entidade poderá ter acesso ao lucro econômico, que é a principal medida de desempenho do GECON;
  • Informação: que congrega todos os processos que a entidade utiliza para produzir as informações.

Mais adiante, partindo do pressuposto que o resultado econômico representa o incremento da riqueza da empresa, de seu patrimônio – ou de seu valor – estes devem ser corretamente mensurados. Para estruturar o sistema de forma que possibilite a mensuração do resultado econômico, com consequente avaliação do desempenho da entidade, o GECON é suportado por cinco (5) pressupostos básicos ([2]):

  • Medida de eficácia da empresa é importante para que os gestores avaliem a continuidade da empresa, tendo o lucro como a melhor medida. Então o GECON se propõe a mensurar o resultado da melhor forma para atender a essa necessidade;
  • O processo de geração de lucro é uma informação sobremaneira importante, pois é preciso conhecer onde o lucro é formado e não apenas onde os custos são formados, subsidiando decisões de qual setor terceirizar;
  • A responsabilidade pela geração de lucro é do gestor, esse princípio do GECON dá informações sobre o desempenho de cada um desses gestores, com base em sua área de responsabilidade;
  • Como o papel dos gestores é responsabilizar-se pela eficácia organizacional, o GECON permite que os mesmos possam ter informações específicas sobre o seu setor, com base em todos os princípios citados anteriormente, implicando um processo decisório mais eficaz;
  • A informação para a gestão deve ser racional e aplicável ao contexto organizacional; por este motivo, ela não deverá ser limitada gerencialmente pela legislação vigente ou princípios contábeis.

Por fim, o resultado econômico – o lucro – que é a base do modelo GECON, precisa atender aos seguintes requisitos fundamentais. O modelo parte das seguintes premissas:

  • O resultado econômico depende das ações dos gestores;
  • O resultado econômico deve estar corretamente mensurado;
  • O resultado econômico precisa ser otimizado;
  • O resultado econômico precisa ser efetivado.

Assim, pode-se inferir que o resultado econômico dependerá das ações dos gestores pela implementação de um modelo de gestão que assegure a plena utilização das potencialidades dos gestores, cujo objetivo será a otimização do resultado. Esses resultados poderão ser alcançados por meio do estabelecimento de um modelo de decisão para cada evento econômico que torne possível a visualização da alternativa otimizadora de cada decisão pelo resultado corretamente mensurado.


([1])  SANTOS, Roberto Vatan dos. “Abordagens do processo de ensino e aprendizagem”. Revista Integração, Jan/Fev/Mai. 2005, Ano XI, nº 40, p. 19-31.

([2])  MARTINS, Larissa Rodrigues Barcellos; PEREIRA, Lucas de Sant’Anna; ALMEIDA, Luana Maravilha; HORA, Henrique Rego Monteiro; COSTA, Helder Gomes. Estudo sobre escala mais adequada em questionários: um experimento com o modelo de Kano. Vértices, v. 13, n. 1, p. 75-103, jan./abr. 2011

As Formas de Pensamento Que Influenciam as Concepções Teóricas na Economia

O Que Diferencia o Pensamento dos Economistas Estruturalistas dos Hegelianos? Que Particularidades Institucionais e Culturais Podem Afetar os Resultados de uma Política Econômica? O Que Caracteriza o Homem Máquina e o Homem Econômico de Uma Economia?

Os economistas kantianos – ou estruturalistas ([1]) – partem do princípio de que, além das determinações estáveis e recorrentes, também existem particularidades institucionais e culturais que afetam os resultados de qualquer política econômica. Assim, no entender deles, devem existir políticas públicas que regulem as constantes instabilidades estruturais de qualquer sistema econômico existente.

Já os economistas hegelianos ([2]) partem da análise das mudanças históricas, sendo esta a “resposta socialmente viável às demandas e pressões contraditórias suscitadas por “conflitos de interesse internos a um dado sistema”, condicionados por “institucionalidades históricas específicas.

Já o que orienta a pesquisa dos economistas cartesianos é a convicção de que o mundo é essencialmente ordenado, estável e simples. Apregoam os autores neoclássicos que, para além das aparências (de mudança, de crise, de irracionalidade, de alternativas abertas), o que existe é o “Homem Econômico”, racional, egoísta e hedonista, o qual busca a maximização de seu prazer, com um mínimo de dispêndio de recursos.

Sabendo-se que todos agem o tempo todo de acordo com o mesmo padrão essencial, bastam as informações sobre disponibilidade/distribuição dos recursos para projetar as consequências desta ou daquela política econômica, desta ou daquela “alteração das regras do jogo ([3]). Assim, as políticas não devem subverter a essência do jogo econômico, das regras naturais. E, com a concepção acima delineada, os autores cartesianos vinculam-se ao conceito de “homem-máquina”.

O conceito de “homem-máquina” se baseia no comportamento puramente mecânico do homem; ou seja, na eliminação por completo das ideias do contexto, existindo explicações físicas para “todos os fenômenos observados ([4]). Para justificar essa afirmação, o autor lança a seguinte pergunta: “Por que não estender ao estudo das criaturas vivas os métodos e modos de abstração que se haviam revelado tão úteis na explicação e previsão de fenômenos físicos que iam dos corpos celestes ao movimento local e reflexão da luz? ” (p. 41).

O autor afirma que essa noção contribui para a construção de empreendimentos intelectuais. Essa perspectiva, sob a influência do Iluminismo do século XVII, moldou as ciências empenhadas em “explicar a ação humana sem precisar recorrer às supostas crenças, desejos, intenções e julgamentos morais dos agentes” (p. 41).

Assim, a ideia subjacente à noção de Homem Máquina foi a de considerar “os seres humanos e suas ações como objetos e eventos do mundo físico”, priorizando a objetividade e eliminando as subjetividades inerentes ao “pensamento moral e processos mentais em geral”. Essa visão do Homem Máquina influenciou a noção do Homem Econômico da Economia, onde as ações humanas são mecanizadas e baseadas na “utilidade” e no “auto interesse” (GIANETTI, 2003, p. 42).

Trata-se, de acordo com o autor, de compreender uma “esfera restrita da conduta humana” e que, por assim ser, permite a utilização da matemática e de processos de raciocínio para analisar as “ações lógicas” (cálculo da utilidade e do comportamento otimizador, por exemplo), em contraposição ao comportamento instintivo, aos sentimentos, às emoções e às demais ações não lógicas, que “têm por base não o cálculo e seleção de meios apropriados, mas fatores como costumes, hábitos, crenças supersticiosas, valores estéticos, noções de dever e coisas afins” (p. 79).

Ainda de acordo com o mesmo autor, na noção de Homem Econômico, caracterizada pela “aplicação dos instrumentos matemáticos da física à análise de nossas transações econômicas” (p. 60), influenciada pela perspectiva do homem-máquina, a ação humana é motivada por “sentimentos de prazer e dor”.

Essa visão da Economia […] demanda a normalização absoluta da conduta humana na vida econômica de modo a torná-la semelhante à máquina, no sentido de exigir respostas automáticas e uniformes dos agentes aos sinais dos preços na economia, independentes de opiniões morais e estéticas que esses agentes possam ter (p. 61).

Trata-se de uma separação entre “ação moral” e “ação econômica”. A ação econômica é definida como sendo aquela que não é “afetada por noções de dever, beleza, solidariedade ou obrigação moral, na medida em que está exclusivamente sujeita a cálculos de retorno das ações possíveis dentro do marco legal”. A teoria econômica, que incorporou a noção de homem-máquina, explica, portanto, os fenômenos econômicos sem considerar o que é “moralmente correto” e as ações realizadas por instinto (impulso sem reflexão).

Gianetti explica que essa noção de Homem Máquina é uma abstração da ação econômica que permite afirmar que os homens tomam decisões movidos somente pelo auto interesse, e que, nesse processo, “não têm influência alguma a moral e as preocupações não econômicas do agente, suas crenças e opiniões” (p. 61). A ação econômica, nessa perspectiva, pode ser definida como um jogo de xadrez, que propicia, assim, a relativização do certo e do errado, do bem e do mal; em outros termos, o Homem Econômico está em “férias morais na província da economia”. Essa metáfora do jogo fica mais bem evidenciada no seguinte arrazoado do autor:

O grande benefício obtido com essa definição é que, eliminando todas as questões de valores não econômicos e fins últimos da concepção econômica, torna-se então possível lidar com o comportamento de todos os agentes como se ele fosse equivalente a uma participação em um jogo de calcular, não diferente da participação que existe, digamos, no jogo de xadrez ou no aspecto puramente operacional de um confronto militar (p. 61).

Dessa forma, o Homem Econômico “como uma máquina de prazer”, está desprovido de “autonomia e responsabilidade nas transações econômicas”, “deixa de ser uma pessoa moral” nas relações de trocas econômicas e torna-se essencialmente um jogador. Na Economia neoclássica, portanto, “a prescrição é o auto interesse, limitado pela lei”. Nesta perspectiva, se todos os agentes econômicos agirem de forma egoísta, o resultado será o bem-estar de todos. Essa “mão invisível” da Economia, desprovida de motivação moral, resultará em um “máximo moral”, o bem de todos (p. 64).

Portanto, a Economia ortodoxa construiu uma arena para a atuação dos indivíduos, com um cenário desprovido de obstáculos teóricos complexos, subjetivos e difíceis de serem considerados nas análises econômicas. Entretanto, Gianetti chama a atenção para a constatação de que “libertar a vida econômica da moralidade revela-se não apenas um ponto de partida promissor para a análise abstrata, mas também se torna um ponto de chegada moral, isto é, um estado de coisas desejável” (p. 64).

Essa ideia de “descontaminar as ações econômicas das opiniões morais e estéticas daqueles que as praticam”, para torná-los jogadores no “palco econômico”, é uma abstração excessiva do comportamento humano, que permite avançar na interpretação sobre a existência de um caminho livre para a “persuasão” dos agentes econômicos e o controle de seu comportamento: não uma persuasão que buscará moldar diretamente suas condutas, utilizando prescrições morais e julgamentos de valor, mas uma “persuasão” baseada em mecanismos de preços – ou na alteração das regras do jogo. Segundo Gianetti, a persuasão ocorre com a mudança das regras do jogo econômico:

A concepção de que os julgamentos de valor e crenças gerais dos agentes moldam sua conduta econômica deixa de ser levada em conta para explicar o comportamento observável dos agentes no sistema. Estritamente falando, passa a não ter sentido procurar dissuadir os agentes econômicos de uma certa linha de ação para fazê-los perceber e seguir uma linha mais desejável. É somente mudando algumas regras do jogo econômico e administrando os sinais de preço apropriados que é possível alterar o comportamento dos agentes envolvidos e produzir os ajustes necessários. Não há lugar para a persuasão moral quando o palco econômico é montado e os atores começam a sua atividade (p. 64).

O resultado dessa construção abstrata do Homem Econômico (Economia moderna), influenciada pela noção de Homem Máquina(ciência moderna), foi a normalização, simplificação e homogeneização do comportamento individual dos agentes econômicos na vida prática, “de modo que as ações do agente individual pudessem ser explicadas como respostas automáticas a mudanças nos sinais de preços na economia”; ou seja, resultou em uma redução dos “fatores ligados à escolha” (utilidade) e em uma construção intelectual da natureza humana como constante, ou não maleável, ao longo do tempo e baseada essencialmente no auto interesse ou no egoísmo.

Em síntese, a teoria neoclássica construiu uma “explicação científica da ação humana” (comportamento individual) com o objetivo de entender o comportamento do sistema econômico, tendo como referências as noções de Homem Máquina e Homem Econômico. O Homem Econômico pressupõe o uso de “eventos mentais”, tais como o raciocínio e o uso de conhecimentos. Já a noção de Homem Máquina“ exclui a eficácia causal de todos os processos mentais” e estabelece que “ideias, motivos e sentimentos” não têm papel algum na determinação da conduta (p. 68).

Assim, em decorrência dessas duas noções – Homem Máquina e Homem Econômico –, a Teoria Neoclássica pressupõe que o indivíduo possui uma racionalidade econômica em busca da maximização de seu auto interesse. As análises ortodoxas da Economia assentam-se, pois, fundamentalmente, em três pilares: individualismo, racionalidade econômica e maximização.


([1]KANT Immanuel – Filósofo prussiano considerado por muitos como o principal filósofo da era moderna. Os adeptos de sua abordagem da Economia enfatizam a importância de considerar características tipicamente estruturais ao empreender a análise econômica

([2]HEGEL Georg W. Friedrich. Sua obra é um marco na filosofia mundial, podendo ser incluído no que se chamou de Idealismo Alemão (movimento filosófico marcado por intensas discussões entre pensadores de cultura alemã). Essas discussões tiveram por base a publicação da “Crítica da Razão Pura” – de Immanuel Kant

([3]PAIVA Castro. CUNHA André M. Noções de Economia. Fundação Alexandre Gusmão. 2008, p 35

([4])  GIANETTI, Eduardo. Mercado das Crenças: Filosofia,1ªED.(2003)

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A Economia e Suas Políticas Externas

Como se Classificam as Políticas Externas de Um País? A Que se Refere Uma Política Cambial? O Que Significa Uma Barreira Fiscal? Quais os Principais Instrumentos Para Gerenciar as Políticas Externas? Que Variáveis Podem Afetar as Exportações de Um País?

As políticas externas de uma nação são os resultados da atuação econômica do governo no setor externo. E, conforme especialistas, as políticas externas de um país podem ser classificadas em dois (2) tipos:

  • Política cambial, que se refere às variações das taxas de câmbio e ao controle do governo;
  • Política comercial, que se refere ao fluxo de mercadorias e serviços no mercado.

As políticas cambial e comercial atuam no setor externo da economia e, a política cambial, se refere ao controle exercido pelo governo sobre as taxas de câmbio. Já a política comercial se refere ao estímulo das exportações, através de subsídio de juros e desestímulo ou controle das importações, através da imposição de barreiras fiscais com majoração de taxas.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi fundada em 1995, sendo a responsável por administrar o sistema comercial no mundo. Além da OMC, outros dois importantes órgãos controlam o comércio internacional, sendo o Fundo Monetário Internacional (FMI), criado com o objetivo de estabelecer

a estabilidade financeira no mundo e o Banco Mundial, ou Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), órgão fornecedor e captador de crédito e que foi criado que foi criado em 1944 com objetivo de ajudar os países a se reconstruírem no período pós-guerra. As políticas externas, segundo Passos e Nogami (2008), podem ser gerenciadas pelos seguintes instrumentos:

  • Tarifas sobre importações: em relações comerciais que as tarifas são caras e ocorre barreira comercial entre países, estes optam pela produção interna. Já quando ocorre a abertura comercial entre países, acontece a liberalização das importações e as tarifas são reduzidas;
  • Regulamentação do comércio exterior: são regulamentados pelo governo o estabelecimento de cotas ou proibições às importações de determinados produtos, representam barreiras às importações;
  • Subsídios fiscais e/ou monetários para exportações: são incentivos para as exportações.

O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércios (GATT), em 1994, estabeleceu normas para criar uma área de livre comércio e a união aduaneira. O livre comércio é um acordo entre os países membros, já a união aduaneira estabelece uma tarifa externa para todos países.

Os acordos ou tratados de livre comércio são formas de eliminar as tarifas alfandegárias, e estabelecer cotas reduzidas de exportações e importações fixadas, dessa forma, estabelecendo livre comércio entre os países que assinaram o acordo chamado de países membros. Na década de 1990 se intensificaram os acordos de livre comércio como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), em 1992, a União Europeia, em 1993, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em 1994, o Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1995, entre outras.

Exportação e Importação

As exportações são as vendas, no exterior, de bens e serviços de um país, representam o ingresso de divisas no país pelas transações comerciais realizadas. Porém, estas são influenciadas pelos preços externos, pelos preços internos, pela taxa de câmbio e pela renda mundial.

As importações são as entradas de mercadorias e serviços estrangeiros em um país. Elas também apresentam alguns fatores que a influenciam, sendo os preços em moeda estrangeira, os preços em moeda interna, a taxa de câmbio, a renda, o produto nacional e as tarifas e barreiras impostas às importações.

Todos os fatores que interferem no valor da moeda nacional ou estrangeira farão com que a tomada de decisão de importar ou exportar seja alterada. Pois, se analisarmos o câmbio, ou a taxa de cambio, que é o preço da moeda (divisa) estrangeira, em termos da moeda nacional, temos, por exemplo, a cotação do dólar valendo R$ 4,00. Ou seja, cada U$ 1,00 (um dólar) custa quatro reais.

Desta forma, o Brasil vai evitar importar mercadorias, pois custariam um valor muito alto. As exportações podem ser afetadas pelas seguintes variáveis determinantes, segundo Vasconcelos e Garcia (2012) e Passos e Nogami (2008):

  • Preços externos: a elevação dos preços externos (ex. dólares) aumenta as exportações e diminui as importações (ex. brasileiras).
  • Preços internos (domésticos) em reais: o aumento dos preços internos desestimula as exportações e aumenta as importações por produtos substitutos.
  • Taxa de câmbio nominal (reais por dólar): uma desvalorização cambial tende a desestimular importações, fazendo com que os compradores adquiram mais produtos nacionais.
  • Renda mundial: quando a renda aumenta, tende a estimular o aumento do comércio internacional e, consequentemente, as exportações aumentam.
  • Subsídios e incentivos às exportações: estimulam o aumento das exportações, por meio de incentivos fiscais do governo, tais como a isenção de impostos ou tarifas alfandegárias.

Já no caso das importações, as variáveis determinantes que as afetam são:

  • Preços externos: a elevação dos preços externos dos produtos (ex. em dólares) tende a reduzir a importação brasileira;
  • Preços internos: um aumento dos preços internos ou domésticos (ex. em reais) tende a aumentar a compra de produtos externos aumentando, assim, as importações brasileiras;
  • Taxa de câmbio nominal: uma desvalorização cambial tende a aumentar as importações fazendo com que desestimule consequentemente as importações;
  • Renda do produto nacional: um aumento da renda nacional tende a aumentar o consumo do mercado interno, e ao mesmo tempo demandará a importação de novos produtos;
  • Tarifas e barreiras às importações: um aumento das importações tende a elevar o aumento das tarifas sobre as importações ou barreiras tarifárias pelo governo.

Outro fator importante sobre as variáveis é que nas exportações a variável “subsídios” estimula as exportações      e, nas importações, a variável “tarifas e barreiras” tem seus limites influenciados pelas importações. Quando estudamos exportações e importações, é inevitável não falar em balança comercial. Dessa forma, segundo Passos e Nogami (2008), a balança comercial é o resultado das relações das exportações e as importações.

Quando um país exporta mais do importa, ele gera um saldo positivo na balança comercial; ou seja, ele vende mais do que compra de outros países e, quando esse mesmo país importa mais do que exporta, ele possui um saldo negativo na balança comercial, ou seja, ele está comprando mais do que vendendo. E ela estará em equilíbrio quando as exportações e importações são próximas ou iguais.

Portanto, em termos internacionais, a economia exerce um importante papel ao articular as relações comerciais e financeiras entre os países, por meio de acordos de livre comércio, por exemplo, em que os países que assinam esse acordo possuem livre entrada nos países membros.

REFERÊNCIAS

PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de economia. 4. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2008.

VASCONCELOS, M. A. S. de; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.